segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Da Praça XV a Ribeira

Jodhi Segall

Era tarde a espera e
cedo demais para esperanças
Sincera era a canção
assobiada pelo menino que
encantava estrelas

A barca parte da Praça XV
para a Ilha
Chove sobre as quintas del Rei
mas a frente o sol apresenta sua
imperiosa face

Poseidon reclama calmaria
mas Eólo brinca distraindo-se com suas
nuvens de algodão doce

Travessias e travessuras
tudo ao novo é aventura
descoberta de si
construção do mundo

Golfinhos alados
acompanham a escuna
entre a procura e a partilha
no horizonte a Ilha

Aporta a nau no cais da Ribeira

Sempre felizes desembarcamos
em boa companhia
todo o apartar-se é novo encontro
não há saudade
nenhuma falta
só completude

Um homem caminha pela rua

Jodhi Segall

Um homem caminha lentamente pela rua
acende seu cigarro
verifica a indumentária
observa o tempo
em seu relógio antigo
atravessa mansamente a
a praça movimentada e
a feira em alaridos
mira ao redor com
felinos olhos maravilhados
e como se livre fosse
segue para
o ponto final do coletivo

O ocaso é próximo dos Deuses

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sophia

Jodhi Segall


Ao sul ardente sol
Ao norte frio a tirana sorte
Garra de tigre e língua de dragão
Celerado estorvo o corvo

amor sem paixão

Tesão

Viola sangrenta a escuridão
Violação consentida a boca do vulcão
Morte helena sophia
Eros compadecido
Morfeu distraído em sua gula
Orfeu traído na volúpia e fome

Ao norte a corte
Ao sul o corte
Cortez laureado em seus exércitos
Caras e velas sem veias
Vela-se: aqui aviam-se mortuários

O gozo ignorado
O riso castro das censuras
A lei do medo e do pavor
Além do horror, o outorgado

amar quem sabe

Ao norte frio
Marte soberano
Ao sul ardente
o ledo engano

Cigano o sal

Da lágrima
o sol

Ao norte o desengano de sophia
Ao sul loucura

Procura a porta torta
a gruta
a grota

Aziago dia sem prazer
Vinho e queijo sem suor
Azeda insone a noite sem soar

O céu da boca é vermelho
O mar das nozes, azul

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Além do olhar

Jodhi Segall

Uberaba, MG 17 de outubro de 2009
IFTriângulo


Minhas unhas estão sujas de graxa
Meus cabelos cheiram a óleo diesel
Minha vizinha teve a água cortada
E ambos cansados tentamos sorrir

Meu irmão cata lixo
É aposentado por demência mental
E sustenta o pária do intelectual
E ambos enlutados tentamos chorar

Minha amada morreu
Era estranha demais
Distante demais
E ambos saltamos da lua sem paraquedas

Estatelado na imensidão
Não sei quem sou
Se sou não sei
Do trem em movimento assim saltei

Minha mãe me espera
Sempre espera a mãe
Suas mãos braços abraços e enternecidos
Crescer é se tornar desconhecido

Fiz enfim um poema suicída

Minha vizinha teve a água cortada

E ambos cansados tentamos sorrir
E ambos saltamos da lua sem paraquedas
E ambos enlutados tentamos chorar

Crescer é se tornar desconhecido
Do trem em movimento assim saltei