domingo, 18 de outubro de 2020

Acerca das eleições municipais de 2020: O que devemos esperar das eleições municipais de 2020

 O que devemos esperar das eleições municipais de 2020

De modo geral pode-se afirmar que as eleições municipais deste ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2020 sejam um teste de fogo – dos infernos! – acerca da realidade nacional e sua consciência política.
Tomando-se por base uma cidade como Uberaba – MG, exemplo microcósmico da realidade nacional em todos os seus aspectos, seja da pujança econômica de alguns setores e sua concentração de renda, e, logo, sua produção e reprodução da desigualdade sócio-econômica nacional; seja da polarização infrutífera da política que não nos leva a lugar algum, senão à alienação e à desinteligência, negações de atos e fatos, e principalmente: nos turva a visão perante aos problemas reais de nosso cotidiano: a água, o gaz, a luz, o telefone, o arroz, o óleo, o feijão e o desemprego; a falta de educação familiar e pública; a canibalização da saúde pública; o desmonte da assistência e da seguridade social; enfim, todas as mazelas políticas, sociais e econômicas centenárias de nossa urbe et orbe, e que, fora alguns lampejos de prudência e sabedoria - humanidade e racionalidade per si - estão aí, e se avolumam na medida em que as práticas demagógicas e populistas se instauram como forma de governo.
Há, portanto, alguns aspectos a serem levados em conta no momento do pleito.
A primeira é bem simples: faça a mesma coisa e terá o mesmo resultado. Ou seja, vote nas mesmas pessoas e obterá o mesmo (des) governo. O que é extensivo ao pretérito das gestões. Há a necessidade de alteridades, porém não apenas de gestores, partidos ou ideologias, mas principalmente de modelo de governo e governança. Mais do que o que se quer para a cidade, é de bom tom saber como se quer.
A segunda, e mais interessante, é preciso verificar as propostas. Porque o que se tem de concreto é a mesma ladainha proferida pelos mesmos atores acerca das mesmas questões que eles, que lá estão e/ou estiveram, declinaram da responsabilidade de resolverem e que usaram seus cargos para apadrinhamentos e enriquecimentos mediados à suspeições. E, 30 anos de poder a qualquer grupo político já o garantiu mais que o suficiente para a eternidade. Isto não obstante ao fato de que continuam com as mesmas práticas de cabresto e toma lá dá cá da década de 1930. Então, como toda proposta requer empenho, saber o quê, como e quando seria ideal para qualquer planejamento.
A terceira: é preciso florir a aridez do sertão político! As mulheres precisam ter poder e voz!!! É preciso abrir mais espaço para a astúcia feminina. Estamos cansados deste patriarcado feudal, que nos trouxe até aqui: um deserto onde fenecem e se amontoam corpos, mentes e esperanças. Precisamos de novos olhares. Precisamos de feminilidade, de consciência sobre a importância da mulher nas decisões políticas. E elas precisam se reconhecer como agentes fundamentais no processo de mudança de paradigmas. Principalmente neste momento onde nunca se viu tantas arbitrariedades e violências cometidas contra elas! É preciso dar poder e voz ás mulheres, é preciso florir a aridez do sertão político!
A quarta e última observação que faço, não menos importante: ama-se uma cidade não por sua beleza ou encantamento, mas pelas pessoas com quem convivemos! São elas que proporcionam a beleza e o encantamento de cada recanto. O frio concreto nada representa. São os corações e mentes que amam e sonham o bem estar coletivo e que agem em prol da civilidade e cidadania que promovem o desenvolvimento humano.
Não se constrói um futuro sem que haja humanidade e respeito nas relações humanas. São destas relações que emergem a verdade, a justiça e a liberdade. Pensar a cidade é ir além de suas ruas e avenidas, de seus complexos arquitetônicos, de suas máscaras.
É pensar e agir e agir na direção das garantias universais dos direitos humanos: é dotar de proteção os idosos; é dotar de acessibilidade as calçadas; é gerir adequadamente o deslocamento viário e sua fluidez; é proporcionar um transporte coletivo de qualidade, com regularidade de linhas e horários que reduzam o sofrimento do usuário e seu tempo de espera; é pensar e agir na direção de um serviço público qualitativo que atenda ao cidadão, que solucione suas demandas, que proporcione ao servidor público meios e recursos para a execução de suas tarefas básicas, que o garanta – mais que a seguridade – o desenvolvimento profissional e ascensão na carreira; que olhe suas crianças – não como delinqüentes a serem tutelados pelo Estado, mas seres em desenvolvimento que necessitam de educação e proteção de todos nós; que vejam os moradores de rua, os drogados e prostituídos não como seres passíveis de banimento ou morte, párias de nossa sociedade, mas como frutos de nossa ignorância, de nosso egoísmo, de nossa ausência de entendimento do que é possível ser feito, e que não fazemos.
Cidade alguma se sustenta sobre preconceitos, sobre falsa moral, sobre convicções. Ela é real. Ela é construída sobre suas próprias contradições, sobre a sua necessidade de conciliação e discórdia, sobre suas limitações e reconhecimento de suas deficiências. Sem isto não há democracia. Há apenas a grande Utopia, que nada mais é do que lugar algum. E a cidade é um ser pulsante. Sem paixão não há vida!
Mudar é preciso. É necessário. Crescer é um estado contínuo de mutação, aprendizado e morte, e renascimento para a vida. Os erros cometidos no passado não nos servem de justificativas para que os cometamos no presente!
Sic transit gloria mundi. Seo venti feceres moras sive aequora vobis ad nulla vester damna retentus amor.
Ileuza Araújo
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