quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Porcos Espinhos Também Amam!

Jodhi Segall
Uberlandia, MG,
27 de janeiro de 2010.


Há termos não escritos na imensidão de amar:
Quem não conhece a liberdade vive ao outro a espetar!!
Invejas, orgulhos, vaidades, todos cabem nos vazios das inverdades.
Ao outro, sempre um canto simples como aconchego e lar e asas...
A porta aberta, nada mais é necessário.
Porcos espinhos também amam!
Aprenderam que feridas necessárias são sinais de sobrevivência ou morte.
Evitam, jogam fora as dores inúteis, fúteis, desnecessárias.
Semeam os campos por onde passam.
Revitalizam flores, campinas, florestas...
Iluminam os bosques da imaginação.
A vida é sempre maior que seu próprio tempo:
Este amar para além de si...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Fisioterapeuta

Jodhi Segall


Para Nivalda Marques do Nascimento
Uberaba, MG, 20.01.10

Ah, meu amor não fique triste
Saudade existe para quem sabe ter
Minha vida cigana me afastou de você
Durante algum tempo terei que viver
Longe de você...

Vida Cigana (Geraldo Espíndola)



Sofri tantos acidentes na vida
Que agora preciso urgente mentes
De ajuda especializada...

Uma reabilitação:

Para meus cegos olhos, teus risos;
Para minha otite média crônica, teus sussurros e gemidos,
meus solfejos aturdidos em teus olhares e dimensões...

Para minha insensatez desordenada, teus desejos mais sagrados;
Para meus lábios tão sôfregos de demasiadas esperas, lunações, estradas,
teus beijos;
Para meus braços, cansados de tantas lutas, teu aconchego: abraços,
carinhos e volúpias...
Para meus pés, tuas danças e descaminhos.

Para meu coração descompassado, os compassos de tuas felicidades;
Para este amor tão grandioso, toda a nossa liberdade.
Eterno em nós, tudo é saudade...

Quiçá, feliz assim na infinitude, encontremos juntos um
entardecer sem julgamentos.
Preenchido de ti por minha vida inteira,
talvez me bem resuma, em suma,
meu sumo ou nunca existi!

PS.: não mais sumas...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Embriagado

de amor e outros escritos

Jodhi Segall

Embriagado
De Amor e de outros escritos

Uberaba-MG, jan. 2006

1

Dos brados de homens faz-se verbo.
De suas preces justificam-nos atrozes.
Ergue-nos lança, adaga, espada.
Homem-aço, laço faz-nos gume de navalha.

Enternecer.

Girar cirandas por congás, folias, catiras e rodas.
Doridas, embriagar-se nos confins do universo.

Rei, senhor, sacerdote, profeta;
Mago, grão-mestre, semideus...

Imortal.

Liberdade, justiça, verdade!
Honra, coragem, dever e sacrifício.

Fênix de carnes e ossos:
dignidade,
equidade,
lealdade.

Sob o triplo sol de Leão, sob as hostes do Dragão:

Glória a Marte, Morte a Eros!

2

Embriagado.

Defenderás os pobres, os órfãos, as viúvas.
Erguerás tua voz contra as injustiças;

Com tua tez vestirás os nus.
Com tua insensatez darás bons conselhos.
Em tua loucura promoverás a justiça.

Tua nudez será sagrada nos óleos do prazer;
Tuas mãos modelarão o barro indócil do saber.
De teu olhar verterá a humildade, o entendimento,
a fortaleza.

Sob teus pés depositarás as asas do firmamento:
temperança, perseverança e fé.

Erguerás teu clamor e todos os deuses te ouvirão.

Liberdade, justiça, verdade!
Coragem, determinação!
Ergue tua voz.

3

Embriagado.

Ruas, praças, avenidas.
Esquinas e vidas.
Um coração selvagem caminha pela noite escura.

Arca, ponte, portal e chave.

Cavalos-marinhos alados te protegem.
A lua te envia melodias de ternuras
e encantamentos.

O sol aquece o coração selvagem.

4

Embriaguez.
Embriaguez completa.

Alea jacta est.

Epifania divina de não ser.

Loucuras visionárias
(con)textualizadas em planos outros.
Infernos delirantes
de demônios interessantes
e magníficos.

Criações sem criaturas.
A verbe e o estro, o mastro sem maestro.
A nau flutua sobre as nuvens e epidermes.
Não passamos de uma hibridez
de inseto e verme.

Predadores, parasitas, detratores.

Consolo humilde: o homem morre em seus mitos...

Revolução: destrua tuas caravelas.
Apague tuas velas, sangra tuas veias.
Rasga tua terra. Vê tua cova rasa, silenciosa e tudo.

Nada cala o mundo: ao sair,
pague a conta.



5

Famigerada espera de compreensões
ao longe das manhãs.

Ao largo se posicionam as frotas sem rotas,
rôtas de tantas eternas parcas palavras.

Parvas.
Podres.
Vazias...

Naufragante, embriagado...
Terra a vista no prazo das auroras.

Sic transit gloria mundi.

Oh! Com certeza!!

6

Embriagado.

Insular.

Arquipélago telúrico, interestelar.

Plêiades se curvam ao digníssimo.
Ilhotas medíocres se intitulam titulares do credo.

Deus ri-se das infâmias, chora dos risos.

Um Cristo entronizado entre os pobres rebelou-se
ao descaratísmo.

Melhor ser apóstata.

Somos aleluias.
Embriagamo-nos todos no amor e na paixão da luz.

Desnorte, dessorte.
Nesta cruz
cada qual é sua própria morte.

Despidos banimos os mercadores.

Minha nudez tão tua.
Meu coração tão teu.

7

Embriagante embriaguez
que me embriaga a alma
e me dilacera a carne.

Esquatejamentos...

Vestidos. Vestes são máscaras.
Oh! Como somos tão ridículos sem elas...

Púrpura, magenta e laranja.

A noite vem.
Um gosto de imensidão.
Profundo é o mergulho na abóbada dos mitos.
Cada estrela, um reflexo do refluxo dos idos.
Sob os pés, o mármore.
Homens não são rochas. São tochas.
Frouxas. Frágeis. Tremulantes...
Como somos imbecis.
Estúpidos. Tiranos. Vis.
Como somos miseráveis...

Tato e paladar.

Divino é ser humano.


8

Homeopatia astral.
A noite brilha muito além dos néons.

Um grilo falante brinca de super-homem na boca do sapo.
A princesa beijou-lhe a boca desdentada, mas ele não
virou príncipe. Um jacaré azul valsa
com uma baleia Jubarte.

A dama, ao rei devota sua passagem fugidia...

O lobo mau é bonzinho.
Nunca se esqueça, minha filha:
o lobo mau é bonzinho...

Fazemos mapas astrais nos céus plurais de multibocas.

Tem um coelhinho na cartola do mágico;
Uma poção de amor no chapéu da feiticeira.

Oráculos...
Jogam-se runas entre as esquinas,
numerólogos arquitetam o porvir nas mesas de sinuca.

Diante ao oratório,
um pedido a estrela cadente:
seja-me fiel por dez minutos.

Um trago sem estragos.
Um divisar sem divisor.

9

Embriaguez apaixonante.

O cafetão reclama o bem de seu não pecuniário;

Ela recusa-se a dizê-lo não amante.

Ó, espanca-me!
Toma minha alma!
Meu gozo, meu amor...

Dádivas são dívidas.
Nunca se esqueça, minha filha: dádivas são dívidas...

Mais um trago...
Mais um beijo na boca do diabo...
Mais um gozo sem estragos.

Não, não morde,
não marca,
meu marido é ciumento.

O beija-sarjeta, o cantar do clandestino,
o devotado ao sem destino.

Prazer e dor.
Prazer em dor.
Prazer é dor.

Êxtase e gigantismo.
Pequenez e gratificantes: gestos de cumplicidades soberanas.
De grátis: nua e crua, a lua.

A dor não pode ser maior que o prazer;
Nem o medo, maior que o amor!

Espelho

Jodhi Segall

Aos poucos nos tornamos mais fortes.
Aquela fraqueza não se sustenta.

Vemos a grandeza como algum comum.
Tomamos posse de nossas riquezas, fortunas, venturas.

Nada tememos em nós próprios e tudo preservamos ao derredor:
o modo, as coisas, as pessoas...

Aos poucos a imagem se dissipa e
no espelho encontramos nossas verdades.

Nenhuma dor permanece.
Sentimos uma áurea de humanidade,
cantamos uma música enternecida sem melancolias,
melodramas, restituições ou resgates.
Todas as contas estão pagas.

Leve como uma pluma, ergue-se sobre o sol,
a alma.

Sob estradas, estrados...
Além de nós, estrelas!