quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Embriagado

de amor e outros escritos

Jodhi Segall

Embriagado
De Amor e de outros escritos

Uberaba-MG, jan. 2006

1

Dos brados de homens faz-se verbo.
De suas preces justificam-nos atrozes.
Ergue-nos lança, adaga, espada.
Homem-aço, laço faz-nos gume de navalha.

Enternecer.

Girar cirandas por congás, folias, catiras e rodas.
Doridas, embriagar-se nos confins do universo.

Rei, senhor, sacerdote, profeta;
Mago, grão-mestre, semideus...

Imortal.

Liberdade, justiça, verdade!
Honra, coragem, dever e sacrifício.

Fênix de carnes e ossos:
dignidade,
equidade,
lealdade.

Sob o triplo sol de Leão, sob as hostes do Dragão:

Glória a Marte, Morte a Eros!

2

Embriagado.

Defenderás os pobres, os órfãos, as viúvas.
Erguerás tua voz contra as injustiças;

Com tua tez vestirás os nus.
Com tua insensatez darás bons conselhos.
Em tua loucura promoverás a justiça.

Tua nudez será sagrada nos óleos do prazer;
Tuas mãos modelarão o barro indócil do saber.
De teu olhar verterá a humildade, o entendimento,
a fortaleza.

Sob teus pés depositarás as asas do firmamento:
temperança, perseverança e fé.

Erguerás teu clamor e todos os deuses te ouvirão.

Liberdade, justiça, verdade!
Coragem, determinação!
Ergue tua voz.

3

Embriagado.

Ruas, praças, avenidas.
Esquinas e vidas.
Um coração selvagem caminha pela noite escura.

Arca, ponte, portal e chave.

Cavalos-marinhos alados te protegem.
A lua te envia melodias de ternuras
e encantamentos.

O sol aquece o coração selvagem.

4

Embriaguez.
Embriaguez completa.

Alea jacta est.

Epifania divina de não ser.

Loucuras visionárias
(con)textualizadas em planos outros.
Infernos delirantes
de demônios interessantes
e magníficos.

Criações sem criaturas.
A verbe e o estro, o mastro sem maestro.
A nau flutua sobre as nuvens e epidermes.
Não passamos de uma hibridez
de inseto e verme.

Predadores, parasitas, detratores.

Consolo humilde: o homem morre em seus mitos...

Revolução: destrua tuas caravelas.
Apague tuas velas, sangra tuas veias.
Rasga tua terra. Vê tua cova rasa, silenciosa e tudo.

Nada cala o mundo: ao sair,
pague a conta.



5

Famigerada espera de compreensões
ao longe das manhãs.

Ao largo se posicionam as frotas sem rotas,
rôtas de tantas eternas parcas palavras.

Parvas.
Podres.
Vazias...

Naufragante, embriagado...
Terra a vista no prazo das auroras.

Sic transit gloria mundi.

Oh! Com certeza!!

6

Embriagado.

Insular.

Arquipélago telúrico, interestelar.

Plêiades se curvam ao digníssimo.
Ilhotas medíocres se intitulam titulares do credo.

Deus ri-se das infâmias, chora dos risos.

Um Cristo entronizado entre os pobres rebelou-se
ao descaratísmo.

Melhor ser apóstata.

Somos aleluias.
Embriagamo-nos todos no amor e na paixão da luz.

Desnorte, dessorte.
Nesta cruz
cada qual é sua própria morte.

Despidos banimos os mercadores.

Minha nudez tão tua.
Meu coração tão teu.

7

Embriagante embriaguez
que me embriaga a alma
e me dilacera a carne.

Esquatejamentos...

Vestidos. Vestes são máscaras.
Oh! Como somos tão ridículos sem elas...

Púrpura, magenta e laranja.

A noite vem.
Um gosto de imensidão.
Profundo é o mergulho na abóbada dos mitos.
Cada estrela, um reflexo do refluxo dos idos.
Sob os pés, o mármore.
Homens não são rochas. São tochas.
Frouxas. Frágeis. Tremulantes...
Como somos imbecis.
Estúpidos. Tiranos. Vis.
Como somos miseráveis...

Tato e paladar.

Divino é ser humano.


8

Homeopatia astral.
A noite brilha muito além dos néons.

Um grilo falante brinca de super-homem na boca do sapo.
A princesa beijou-lhe a boca desdentada, mas ele não
virou príncipe. Um jacaré azul valsa
com uma baleia Jubarte.

A dama, ao rei devota sua passagem fugidia...

O lobo mau é bonzinho.
Nunca se esqueça, minha filha:
o lobo mau é bonzinho...

Fazemos mapas astrais nos céus plurais de multibocas.

Tem um coelhinho na cartola do mágico;
Uma poção de amor no chapéu da feiticeira.

Oráculos...
Jogam-se runas entre as esquinas,
numerólogos arquitetam o porvir nas mesas de sinuca.

Diante ao oratório,
um pedido a estrela cadente:
seja-me fiel por dez minutos.

Um trago sem estragos.
Um divisar sem divisor.

9

Embriaguez apaixonante.

O cafetão reclama o bem de seu não pecuniário;

Ela recusa-se a dizê-lo não amante.

Ó, espanca-me!
Toma minha alma!
Meu gozo, meu amor...

Dádivas são dívidas.
Nunca se esqueça, minha filha: dádivas são dívidas...

Mais um trago...
Mais um beijo na boca do diabo...
Mais um gozo sem estragos.

Não, não morde,
não marca,
meu marido é ciumento.

O beija-sarjeta, o cantar do clandestino,
o devotado ao sem destino.

Prazer e dor.
Prazer em dor.
Prazer é dor.

Êxtase e gigantismo.
Pequenez e gratificantes: gestos de cumplicidades soberanas.
De grátis: nua e crua, a lua.

A dor não pode ser maior que o prazer;
Nem o medo, maior que o amor!

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