de amor e outros escritos
Jodhi Segall
Embriagado
De Amor e de outros escritos
Uberaba-MG, jan. 2006
1
Dos brados de homens faz-se verbo.
De suas preces justificam-nos atrozes.
Ergue-nos lança, adaga, espada.
Homem-aço, laço faz-nos gume de navalha.
Enternecer.
Girar cirandas por congás, folias, catiras e rodas.
Doridas, embriagar-se nos confins do universo.
Rei, senhor, sacerdote, profeta;
Mago, grão-mestre, semideus...
Imortal.
Liberdade, justiça, verdade!
Honra, coragem, dever e sacrifício.
Fênix de carnes e ossos:
dignidade,
equidade,
lealdade.
Sob o triplo sol de Leão, sob as hostes do Dragão:
Glória a Marte, Morte a Eros!
2
Embriagado.
Defenderás os pobres, os órfãos, as viúvas.
Erguerás tua voz contra as injustiças;
Com tua tez vestirás os nus.
Com tua insensatez darás bons conselhos.
Em tua loucura promoverás a justiça.
Tua nudez será sagrada nos óleos do prazer;
Tuas mãos modelarão o barro indócil do saber.
De teu olhar verterá a humildade, o entendimento,
a fortaleza.
Sob teus pés depositarás as asas do firmamento:
temperança, perseverança e fé.
Erguerás teu clamor e todos os deuses te ouvirão.
Liberdade, justiça, verdade!
Coragem, determinação!
Ergue tua voz.
3
Embriagado.
Ruas, praças, avenidas.
Esquinas e vidas.
Um coração selvagem caminha pela noite escura.
Arca, ponte, portal e chave.
Cavalos-marinhos alados te protegem.
A lua te envia melodias de ternuras
e encantamentos.
O sol aquece o coração selvagem.
4
Embriaguez.
Embriaguez completa.
Alea jacta est.
Epifania divina de não ser.
Loucuras visionárias
(con)textualizadas em planos outros.
Infernos delirantes
de demônios interessantes
e magníficos.
Criações sem criaturas.
A verbe e o estro, o mastro sem maestro.
A nau flutua sobre as nuvens e epidermes.
Não passamos de uma hibridez
de inseto e verme.
Predadores, parasitas, detratores.
Consolo humilde: o homem morre em seus mitos...
Revolução: destrua tuas caravelas.
Apague tuas velas, sangra tuas veias.
Rasga tua terra. Vê tua cova rasa, silenciosa e tudo.
Nada cala o mundo: ao sair,
pague a conta.
5
Famigerada espera de compreensões
ao longe das manhãs.
Ao largo se posicionam as frotas sem rotas,
rôtas de tantas eternas parcas palavras.
Parvas.
Podres.
Vazias...
Naufragante, embriagado...
Terra a vista no prazo das auroras.
Sic transit gloria mundi.
Oh! Com certeza!!
6
Embriagado.
Insular.
Arquipélago telúrico, interestelar.
Plêiades se curvam ao digníssimo.
Ilhotas medíocres se intitulam titulares do credo.
Deus ri-se das infâmias, chora dos risos.
Um Cristo entronizado entre os pobres rebelou-se
ao descaratísmo.
Melhor ser apóstata.
Somos aleluias.
Embriagamo-nos todos no amor e na paixão da luz.
Desnorte, dessorte.
Nesta cruz
cada qual é sua própria morte.
Despidos banimos os mercadores.
Minha nudez tão tua.
Meu coração tão teu.
7
Embriagante embriaguez
que me embriaga a alma
e me dilacera a carne.
Esquatejamentos...
Vestidos. Vestes são máscaras.
Oh! Como somos tão ridículos sem elas...
Púrpura, magenta e laranja.
A noite vem.
Um gosto de imensidão.
Profundo é o mergulho na abóbada dos mitos.
Cada estrela, um reflexo do refluxo dos idos.
Sob os pés, o mármore.
Homens não são rochas. São tochas.
Frouxas. Frágeis. Tremulantes...
Como somos imbecis.
Estúpidos. Tiranos. Vis.
Como somos miseráveis...
Tato e paladar.
Divino é ser humano.
8
Homeopatia astral.
A noite brilha muito além dos néons.
Um grilo falante brinca de super-homem na boca do sapo.
A princesa beijou-lhe a boca desdentada, mas ele não
virou príncipe. Um jacaré azul valsa
com uma baleia Jubarte.
A dama, ao rei devota sua passagem fugidia...
O lobo mau é bonzinho.
Nunca se esqueça, minha filha:
o lobo mau é bonzinho...
Fazemos mapas astrais nos céus plurais de multibocas.
Tem um coelhinho na cartola do mágico;
Uma poção de amor no chapéu da feiticeira.
Oráculos...
Jogam-se runas entre as esquinas,
numerólogos arquitetam o porvir nas mesas de sinuca.
Diante ao oratório,
um pedido a estrela cadente:
seja-me fiel por dez minutos.
Um trago sem estragos.
Um divisar sem divisor.
9
Embriaguez apaixonante.
O cafetão reclama o bem de seu não pecuniário;
Ela recusa-se a dizê-lo não amante.
Ó, espanca-me!
Toma minha alma!
Meu gozo, meu amor...
Dádivas são dívidas.
Nunca se esqueça, minha filha: dádivas são dívidas...
Mais um trago...
Mais um beijo na boca do diabo...
Mais um gozo sem estragos.
Não, não morde,
não marca,
meu marido é ciumento.
O beija-sarjeta, o cantar do clandestino,
o devotado ao sem destino.
Prazer e dor.
Prazer em dor.
Prazer é dor.
Êxtase e gigantismo.
Pequenez e gratificantes: gestos de cumplicidades soberanas.
De grátis: nua e crua, a lua.
A dor não pode ser maior que o prazer;
Nem o medo, maior que o amor!
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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