quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Carta de um flamenguista para uma corinthiana

Jodhi Segall


No final das contas, vê-la foi algo profundamente útil e necessário. De certa forma fiquei aliviado. Sinto-me menos estúpido, menos patético, menos apartado do mundo e de minhas múltiplas realidades. Embora ainda haja um ranço de mágoa e um rancor vingativo, pois não era esta a história que eu gostaria de ter escrito, apenas a (im)possível, posto mal vivido e dividido em centenas de lacunas e ausências - deficiências minhas, não suas - mal amado, devo ver-me não tão verme, tão nada, tão ninguém! Não me sinto tão fútil, tão frustrado, tão bloqueado como antes... O meu desamor ainda perpassa. Aos poucos vou retomando hábitos saudáveis, reduzindo a angústia e a ansiedade, recuperando meu crédito. Visto-me melhor. O sono aos poucos retorna ao lugar e tempo de origem e não me importo com quem quer que seja. Não há tempo para isto. Tenho a minha filha e uma boa dívida. Estou trabalhando, aos trancos e barrancos, é verdade, mas ao menos não estou mais vinculado à fundos de garantias.Tenho alguns álibis. Fazendo dança de salão e voltando a correr... voar, quem sabe? Quiçá, fazer ioga? Tenho escrito mal, bem sei, mas perdi o gosto. Há ainda um certo desgosto em minha boca e seus cacofônicos dentes podres: triste o riso dos ignorantes! Um pouco assustado com a decreptude, com esta velhice precoce e sua andropausa, resquícios de tabacaria e cachaça e decepções contíguas: fraquezas, frivolidades, idiotices. Sou obrigado a concordar: o amor é aquilo nos torna pessoas melhores! No final, amar é libertar-se de si.
Mas, feliz é aquele que faz as coisas para e por si. O outro é uma extensão de consentidos. Ou mera contabilidade... Assim que puder, acerto as contas e outros esquecimentos. Lembranças aos seus, respeito aos nossos. Sem restos, raspas ou ossos. Amor.

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