Jodhi Segall
Hipocrisia.
Hipocrisia.
Hipocrisia.
Eu também sou hipócrita!
Um certo
desconcertante descontentamento invadiu meu mundinho vazio.
Minha
pequenez mundana se descortinou na embriaguez torpe dos errantes solitários.
Um gosto de fracasso, um cheiro de merda e um ranço de porco e cachaça.
Bem diferente da pipoca e da primeira esperança de se bem querer bem.
Ás vezes despertamos felizes, ainda que desnutridos de qualquer caráter.
Fala-se de lealdade.
Procura-se
afirmar qualquer verdade.
Gritam
pelas ruas: liberdade!
Meus sonhos todos em outros vingaram.
Todas as
minhas incompletudes feneceram.
E com elas minha estúpida e tola
alma.
O erro é
companheiro dos ventos.
Não nos
imobilizam, os erros.
Nos jogam
contra nossa infindável ignorância.
Nos acrescentam.
A
prudência é sagaz.
Previdente.
Organizada.
Institucionalizada.
Econômica como um bom casamento
entre dois estúpidos.
A coragem
é um risco.
Quem não
se expõe não se arrisca.
Quem não
vive não se precipita.
Quem não ama nada possui. Nem
vida.
Ás vezes dormimos felizes, ainda que desnutridos de qualquer caráter.
Falamos
sobre justiça.
Mas não
há justiça dos vencidos.
Falamos
de virtudes.
Mas o que
é a virtude senão a institucionalização do vício.
Precisamos
muito mais do vício do que das virtudes...
Pessoas virtuosas não nos são
úteis.
O mendigo
é mais útil que o professor.
O
traficante é mais necessário que o coletor de lixo.
A
prostituta é mais honesta que a nossa concubina, esposa, amante.
Sexo pago
é mais barato que fazer promessas que não podemos cumprir.
Nada como
a felicidade da liberdade do adultério consentido...
E tudo é
sentido. Fazer ou não? Seguir ou não? Ter ou não?
Que se
dane!!!
E tudo é
contrato:
Porra, mano!! A fora o desespero
econômico e financeiro que se tornou generalizado e crônico, a saúde até que
está muito condescendente. Estou com problemas para pagar a porra do plano de
saúde, mas agora no fim do ano espero controlar as coisas. É a idade das ITES,
aquela que precede as das OSES. Otite média crônica, presente! Laringite,
presente! Gastrite, presente! Estomatite, presente! Duodenite, presente!
Broxite, vez ou outra, dependendo da dosagem alcoólica e do esforço
compreensivo da vagaba!! Porra, se eu soubesse que chegar aos 50 ia ser esse
desastre, sei não, viu!! É claro que a Idiotite é acumulativa e depois dos 40,
dificilmente reversível!!!
Não
diferente de ti cumpadi! É por aí...
Não
exponha suas misérias...
Não mais
do que já expostas, sabidas, reveladas.
Não mais
que isto:
O
alcoolista manipulável, em álibis transformado.
O viciado
em heroína que é presidente do senado da república federativa dos alienados.
Os restolhos pelas ruas e
avenidas descartados em latrinas de maconha e crack.
A Aids
está aí! E daí?!
Também se
morre de gripe, dengue, malária!
Se morre
de descuido, desprezo, desamor!
Diz-se até
que por amor se mata e se morre.
E nada
mata mais do que o amor!!
A morte é
a morte! Que se foda!!!
Tanto faz quanto tanto fez.
O
desemprego taí!
Amanhã
nem teremos mais aposentadoria. Que dirá emprego...
E tudo é contrato.
O
policial é o natimorto da sociedade.
O
delegado, uma libélula deslumbrante na boca do sapo.
O juiz,
um contra-senso jurídico.
O réu é o único que não sendo
inocente, se torna mártir de uma revolução às avessas.
As avenidas,
ruas, vielas, becos e praças definem nossa profunda conformidade.
É tão
fácil instalar câmeras, grades, muros altos, cercas eletrificadas...
O holocausto está aí!! Evoluímos... Globalizamos nossas selvagerias.
O campo de concentração agora é
na sala, na copa, na cozinha, no quarto de cada casa.
A
pedofilia é a glória do momento.
O estupro
é a maravilha do orgasmo social.
As
mulheres espancadas e mortas são o supra-sumo da restituição do direito
universal masculino de foder quando, como e com quem quiser.
É que nem
política:
E cale a
boca: vadia!! Vagabunda!!
Chupa, cacete!! Chupa!!
Chupa gostoso, porra!!
Abra as pernas, filha da puta!!
Me dá logo esse cú, caralho!!
E dá-lhe
porrada!! Mas tudo com muito, muito, muito amor!
O Brasil não é uma prostituta... A foi por muito tempo.
Agora é
como uma primeira dama entre as nações: a grande cortesã!
Nada, nada
como a felicidade da liberdade do adultério consentido...
Literalmente: tudo é contrato!
Nada, nada
como morrer feliz, ainda que desnutridos de qualquer caráter.
Brasília
desperta.
Esperta
essa cidade dormitório...
Cidade
dos méritos.
Pátria da
meritocracia.
Cidade
das asas, dos grandes laços.
E tão
pouco espaço para quem caminha...
Nenhum lugar
para o homem comum.
Diz-se
capital.
Talvez
por isso tão distante do povo ao qual governa.
Talvez
por isso inexistente aos olhos, aos gritos ou ao pulsar daqueles a quem
representa.
Corrupta
essa cidadela.
Cidade
cadela.
Cidade
puta.
Cidade
dependente química, dependente econômica, dependente, dependente...
Talvez
por isto a nação seja tão mediocre, tão dependente da opinião externa.
Nem por
isso Brasília deixa de ser bela em alguns momentos.
Vi um
corpo boiando no lago Paranoá, não era de deputado, nem senador.
Não era o
meu, por ora...
Então não
era ninguém, e o sol brilhou e se pôs maravilhosamente sobre a paz dos
covardes.
A lua
veio. E algumas recordações amorosas me invadiram...
O amor
por lá é invasão e reintegração de posse. Ou isso ou nada.
Quem mais
ama, mais trai.
É uma
cidade anfitriã!
Rosa está
lá já faz tempo.
E eu logo
estarei por lá.
Emburguesar-se
é a evolução natural dos misantropos e misógenos.
O poder é
o poder. Só isto.
Contei
meus últimos tostões.
Sangrei
meus últimos suspiros de amor e saudade.
Esqueci,
por fim, minhas desavenças com a riqueza.
Adeus
miseráveis!!
Vou-me
embora para Bruxelas...
Hummmm!
Por um momento entendi o que é liberdade...
Ninguém
gosta de fracassos...
Nem
Narciso. Quanto mais Apolo!