Jodhi
Segall
Ontem...
Parece que foi ontem que a vida começou.
Parece que foi ontem que a vida começou.
E
ela sempre começa de forma surpreendente, a partir do encalço: encontro e
desencontro entre duas pessoas entrelaçadas pelas dimensões do tempo e da
eternidade.
Ela
sempre começa a partir de espíritos resolutos que se encontram e se perdem na imensidão
do universo e, privilégio de alguns, vez ou outra, de mãos que - unidas em recíproca
defesa - se erguem antes do sol.
Eis
a primeira lição da vida: Nada é
gratuíto! Não existe almoço sem
pagamento! Crescer é um desafio constante, uma superação cotidiana de
vencer a nossa própria ignorância. Dizem que a necessidade é a mãe da invenção,
e nunca saberemos ao certo o quanto de necessidade e o quanto de invenção somos
capazes de ser diante das perdas e danos que sofremos e, daqueles que ainda que
involuntariamente, causamos.
Mas
uma certeza temos: é preciso mudar. Sempre precisamos e precisaremos mudar... O
tempo nada representa senão a nossa capacidade de evoluir, progredir, vencer
nossos medos e amar sem garantias ou exigências estúpidas a todos,
indiscriminadamente, sem nada esperar.
Eis
a segunda lição de vida: ninguém é o tão
somente do que o nada sozinho! Os eremitas são singulares. Buscam uma
espiritualidade individualizada em sua solidão. Possuem o tudo de Deus e o nada
de homens. A santidade é um pecado mortal... A luz tanto ilumina quanto cega: em
um mundo de sete bilhões e meio de habitantes, com tantos avanços tecnológicos
e científicos, é vergonhoso ser humano.
É
triste compreender tantas mensagens ideológico-religiosas que atravessaram
milênios sob termos de justiça e paz, mas cujo propósito é a segregação humana e
o controle social do suposto Estado.
Some-se
tal fato ao enriquecimento ilícito de seus lumiares, que exploram a miséria e
ignorância de seus seguidores através da intermediação do bem divino de bençãos infinitas, materiazadas em mérito
segundo a corrupção da fé em patrimônio físico, financeiro, econômico e político,
logo, benemerência de alguns de alta casta em nome da subserviência de fiéis
subordinados, pois todo jogo possui regras claras e jogam bem apenas aqueles
que as bem conhecem e as manipulam segundo os interesses e nuances do próprio
jogo.
Um
Rabino em nada difere de um Imã; uma reencarnação de Buda em nada difere de um Papa;
um Bispo Neopentecostal em nada difere de um Babalorixá. Os ritos e os mitos;
as místicas e as lendas de cada povo constituem sua identidade cultural e
religiosa: o poder em sua quintaessência.
Quem
os domina, domina não apenas a natureza humana, mas sua inexorável crença na
imortalidade: seja através da hereditariedade e direito sucessório, nossas origens
do cercamento e da propriedade privada; seja na crença em algum paraíso pós-morte,
onde céus e terras se unificam na seara dos justos, seja lá o que venha a ser
isto!?
Devemos
pois, gritar: Segregados do mundo! Eis o grande evangelho: assim na terra como no céu! Não vos basta em vida a miséria, a
fome, o desterro e o suplício! Assim será também o vosso paraíso! Pois este é o
vosso inferno na terra, onde sois tudo, menos justos! Afinal, é impossível ser justo
com fome, frio e sede: a justiça não vos pertence! Ela pertece àqueles que vos
dão a fome, o frio e a sede por mortalha! Assim, também e portanto, será o
vosso paraíso... no céu. Seja lá onde for isto!?
De
qualquer forma, a idéia de excluídos é subjetiva. Cada vez mais podemos
considerar que os verdadeiros excluídos e apartados da vida terrena comum são
as dinastias dos um por cento que a habitam: os ícones bilionários da
humanidade.
Neste
sentido, qualquer mortal com menos de US$7.500,00 (sete mil e quinhentos
dólares) na sua conta ao fim do mês, é muito pobre. Acima disto, até US$200.000,00
(duzentos mil dólares), é pobre. Daí, até uns US$2.000.000,00 (dois milhões de
dólares) é um homem remediado. A partir destes US$2.000.000,01, passamos a
definir a diferença entre riqueza e miséria absoluta.
Eis,
então, a terceira lição da vida: quanto
menores expectativas, maiores os triunfos e menores as decepções.
Pois
sempre teremos que optar pelo bem maior, independente do custo. Não há alegria nem felicidade legítima que não
seja fruto do esforço, do sacrifício e da renúncia: sem dor, sem ganho!
Para
cada escolha, há apenas um percurso: aquele que percorremos. E o melhor de
todos os ganhos é saber fazer. O maior é saber fazer bem feito de uma única
vez. No fim, somos sempre aprendizes...
Eis,
pois, a quarta lição de vida: todos nos tornamos
o melhor que podemos ser! Mas
para que nos tornemos o melhor de nós mesmos é preciso fé! É preciso compreender a nossa infinita pequenez: nada somos senão um pedacinho bem pequenininho do amor divino. Pai,
paizinho! Daí pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão!
Nós
somos o fermento, o sal, o azeite e a pimenta da vida.
Somos apenas frágeis lamparinas que iluminam as lembranças de nossos ancestrais; o entardecer de nosso tempo; e o horizonte de nossos filhos. Estes que com por mais dureza que os tratemos a fim de fortalecer-lhes o caráter e a determinação, sempre serão nossas crianças, ainda que teimemos dizendo-os adultos...
Virtudes e defeitos todos nós possuímos. Cada qual se alimenta segundo a bolsa mais próxima...
Aprender
a valorizar o bem e o bom é qualidade de bom senso e princípio da longevidade. Não há segredo nem
mistério demasiado obscuro na modernidade quanto ao que são e ao
quem somos.
