quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Reflexões acerca da suprema ignorância humana (i)

Jodhi Segall

Ontem...

Parece que foi ontem que a vida começou. 

E ela sempre começa de forma surpreendente, a partir do encalço: encontro e desencontro entre duas pessoas entrelaçadas pelas dimensões do tempo e da eternidade.

Ela sempre começa a partir de espíritos resolutos que se encontram e se perdem na imensidão do universo e, privilégio de alguns, vez ou outra, de mãos que - unidas em recíproca defesa  - se erguem antes do sol.

Eis a primeira lição da vida: Nada é gratuíto! Não existe almoço sem pagamento! Crescer é um desafio constante, uma superação cotidiana de vencer a nossa própria ignorância. Dizem que a necessidade é a mãe da invenção, e nunca saberemos ao certo o quanto de necessidade e o quanto de invenção somos capazes de ser diante das perdas e danos que sofremos e, daqueles que ainda que involuntariamente, causamos.

Mas uma certeza temos: é preciso mudar. Sempre precisamos e precisaremos mudar... O tempo nada representa senão a nossa capacidade de evoluir, progredir, vencer nossos medos e amar sem garantias ou exigências estúpidas a todos, indiscriminadamente, sem nada esperar.

Eis a segunda lição de vida: ninguém é o tão somente do que o nada sozinho! Os eremitas são singulares. Buscam uma espiritualidade individualizada em sua solidão. Possuem o tudo de Deus e o nada de homens. A santidade é um pecado mortal... A luz tanto ilumina quanto cega: em um mundo de sete bilhões e meio de habitantes, com tantos avanços tecnológicos e científicos, é vergonhoso ser humano.

É triste compreender tantas mensagens ideológico-religiosas que atravessaram milênios sob termos de justiça e paz, mas cujo propósito é a segregação humana e o controle social do suposto Estado.

Some-se tal fato ao enriquecimento ilícito de seus lumiares, que exploram a miséria e ignorância de seus seguidores através da intermediação do bem divino de bençãos infinitas, materiazadas em mérito segundo a corrupção da fé em patrimônio físico, financeiro, econômico e político, logo, benemerência de alguns de alta casta em nome da subserviência de fiéis subordinados, pois todo jogo possui regras claras e jogam bem apenas aqueles que as bem conhecem e as manipulam segundo os interesses e nuances do próprio jogo.

Um Rabino em nada difere de um Imã; uma reencarnação de Buda em nada difere de um Papa; um Bispo Neopentecostal em nada difere de um Babalorixá. Os ritos e os mitos; as místicas e as lendas de cada povo constituem sua identidade cultural e religiosa: o poder em sua quintaessência.

Quem os domina, domina não apenas a natureza humana, mas sua inexorável crença na imortalidade: seja através da hereditariedade e direito sucessório, nossas origens do cercamento e da propriedade privada; seja na crença em algum paraíso pós-morte, onde céus e terras se unificam na seara dos justos, seja lá o que venha a ser isto!?

Devemos pois, gritar: Segregados do mundo! Eis o grande evangelho: assim na terra como no céu! Não vos basta em vida a miséria, a fome, o desterro e o suplício! Assim será também o vosso paraíso! Pois este é o vosso inferno na terra, onde sois tudo, menos justos! Afinal, é impossível ser justo com fome, frio e sede: a justiça não vos pertence! Ela pertece àqueles que vos dão a fome, o frio e a sede por mortalha! Assim, também e portanto, será o vosso paraíso... no céu. Seja lá onde for isto!?

De qualquer forma, a idéia de excluídos é subjetiva. Cada vez mais podemos considerar que os verdadeiros excluídos e apartados da vida terrena comum são as dinastias dos um por cento que a habitam: os ícones bilionários da humanidade.

Neste sentido, qualquer mortal com menos de US$7.500,00 (sete mil e quinhentos dólares) na sua conta ao fim do mês, é muito pobre. Acima disto, até US$200.000,00 (duzentos mil dólares), é pobre. Daí, até uns US$2.000.000,00 (dois milhões de dólares) é um homem remediado. A partir destes US$2.000.000,01, passamos a definir a diferença entre riqueza e miséria absoluta.

Eis, então, a terceira lição da vida: quanto menores expectativas, maiores os triunfos e menores as decepções.  

Pois sempre teremos que optar pelo bem maior, independente do custo. Não há  alegria nem felicidade legítima que não seja fruto do esforço, do sacrifício e da renúncia: sem dor, sem ganho!

Para cada escolha, há apenas um percurso: aquele que percorremos. E o melhor de todos os ganhos é saber fazer. O maior é saber fazer bem feito de uma única vez. No fim, somos sempre aprendizes...

Eis, pois, a quarta lição de vida: todos nos tornamos o melhor  que podemos ser! Mas para que nos tornemos o melhor de nós mesmos é preciso fé! É preciso compreender a nossa infinita pequenez: nada somos senão um pedacinho bem pequenininho do amor divino. Pai, paizinho! Daí pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão!

Nós somos o fermento, o sal, o azeite e a pimenta da vida. 

Somos apenas frágeis lamparinas que iluminam as lembranças de nossos ancestrais; o entardecer de nosso tempo; e o horizonte de nossos filhos. Estes que com por mais dureza que os tratemos a fim de fortalecer-lhes o caráter e a determinação, sempre serão nossas crianças, ainda que teimemos dizendo-os adultos... 


Virtudes e defeitos todos nós possuímos. Cada qual se alimenta segundo a bolsa mais próxima... 

Aprender a valorizar o bem e o bom é qualidade de bom senso e princípio da longevidade. Não há segredo nem mistério demasiado obscuro na modernidade quanto ao que são e ao quem somos.

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