Igor Koldhish
A
concepção de Estado é tão relativa quanto os aspectos referentes à
territorialidade. Supostamente, o Estado seria o universal, que por
jurisprudências regularia a sociedade circunscrita a algum território, cuja
representatividade soberana expressar-se-ia através de sua Carta Magna, e que, por
consequente ato Legislativo, representaria, em primeira instância: as garantias
fundamentais de seu povo e o como tais, as relações sociais, políticas e
econômicas ali existentes e conflitantes entre si, posto sempre haver o
contraditório em face aos interesses que se defendem e o como isto se revela no
anseio, não popular, como assim se julga, mas das classes dominantes, como de
fato o é.
Da
mesma forma que as fronteiras físicas são hipóteses de conjunto, e não o
conjunto em si, Estado e Pátria não são necessariamente a mesma coisa ou se prestam
aos mesmos interesses.
Sendo
assim, a Pátria, algo mais relativo ao lugar de nascimento ou adotado por uma
civilidade, refere-se aos viventes que se reconhecem filiais aos interesses e
valores e princípios deste lugar, unidos por uma mesma língua e costumes
culturais, independente de lá coabitarem.
A
Pátria faz parte do homem, mas é sua escolha ser ou não patriota. A Pátria
judaica, por exemplo, é Israel. Não há outra Pátria para o judeu. Independente
do Estado Nacional em que tenha nascido, sua Pátria é Israel. Seus valores e
princípios ideológico-políticos e culturais são judaicos e é ao Estado de
Israel a quem presta serviços e contas.
Ainda
que sujeitos às regras institucionais e jurídicas de convivência ética e moral
promulgadas por um determinado Estado, há de se ter em mente as limitações
territoriais deste mesmo Estado e sua Soberania Executiva. Caso entendêssemos melhor
tal circunstância geopolítica, talvez encontrássemos na geografia humana uma
amplitude sensata ao termo Soberania, algo muito questionável na realidade dos
povos e nações.
Não
obstante, tendo então na inexistência do Estado a figura do Judiciário, que
deveria, por regra, buscar o entendimento entre os povos em sua relação intra e
extrafronteiras, este seria, por ventura, o fiel da balança entre a igualdade
necessária e a equidade exequível.
Fato
é que tal atribuição foi deixada à cargo da Economia. Logo, para além da
inexistência do Estado, seja ele uma suposição jurídica ou territorial, há, na
modernidade, ou apenas uma constatação histórica, a inexistência da justiça. Ao
menos alguma não atrelada aos interesses da classe dominante global.
Ao
adentrarmos o século XXI descobrimos a total ausência de eficientes modos e
instituições de controles econômicos, sociais e políticos capazes de garantirem
a sobrevivência humana por longo prazo.
No
âmbito econômico, o capitalismo demonstra sua voracidade genocida, que gera
impérios de concentração de renda em detrimento de 2/3 de famigerados. Porém, as
demais formas de sistemas também não foram, até agora, capazes de responderem às
demandas crescentes das necessidades básicas humanas. A Social-democracia tem
sido um alento, mas carece estrutura universal.
A
China, em sua total falta de transparência, e 1,2 bilhões de proletários e 100
milhões de burgueses, não responde muito bem enquanto modelo de justiça e
equidade social. Os Impérios pseudodemocráticos, muito menos. Talvez uma
comunidade aborígene do Centro-África entenda mais de economia global e justiça
social do que grandes nações.
Tanto
a Democracia quanto o Socialismo encontram-se - no campo das ideias - no mesmo
patamar da Anarquia: válidos enquanto utopias.
Apenas
o Fascismo e suas sombrias vertentes obscurantistas encontra o devido respaldo
e farto ambiente no capitalismo, ainda que seja desnecessário querer impor
caráter humanitário no campo ideológico-político determinado por lateralidades
simbólicas: Extrema-direita e extrema-esquerda são a mesma coisa. Não há
diferença alguma entre facínoras.
De
mesmo modo, e acompanhando a lateralidade: Direita, Centro e Esquerda, são
muito mais fisiologismos do que ações políticas que contestem a realidade da
precariedade social e econômica dos povos em si.
Ao
apelarem ao inexistente Comunismo, algo a ser encontrado de fato no compêndio
das ignorâncias humanas e refutado pelo cristianismo - base filosófica da
partilha universal dos bens, expõem-se a hipocrisia. Ou, no mínimo a
incoerência entre o pensado e o realizado.
Afinal,
a crucificação é pena capital, não ato libertário. Ressurreição, é carente de
presentes e futuros; reencarnação, falta-lhe a lógica sistêmica, memória
histórica e censo demográfico pregresso; enfim, falta à cristandade a
consciência social de ser estar no mundo para além da culpa de fazê-lo insano.
Diante
de, as religiões em si, não vão tão além disto. E são, em monta, não lenimento
ao espírito humano, mas látego. Pensar e realizar o pensado requer esforço
demasiado em prol da justiça social e equidade educacional, distribuição
qualitativa de bem estar e seguridade. Pessoas famintas padecem, morrem. Não
possuem espiritualidade nem forças para lutar contra o que ou quem quer seja.
Neste
contexto, a Bíblia, portanto, é apenas um resumo da história de um povo em
busca de libertação de sua própria ignorância, de sua miséria, de sua fome. É a
formação da identidade de um povo sob o prisma de um suposto deus nada gentil
para quem quer seja, e no caso da fundação do cristianismo: adúltero e pedófilo.
Muito mais a representação de nossas iniquidades, condenáveis no âmbito humano,
por que deveríamos aceita-las no campo das divindades? E, mais, que patético é
este deus que tendo criado o universo, daria a garantia de domínio universal à
apenas uma única etnia? É muito, até para quem acredita em destino manifesto.
Não há salvação alguma neste suposto deus. E não só os judeus sabem disto.
Ao
considerar Estado, este manicômio estrutural, idealizado e programado para a
submissão do homem às regras que não lhe cabem julgar, mas cumprir, cabe às
religiões o ato de contrição: foi Deus quem quis. Diga-se: desde a Idade Média,
não há poder mais significante. Porém, repugnante.
O
Islã, tão condenado pelo ocidente, é temível. Porém, não menos brutal que as
demais religiões. Não menos alienante que as demais. Não menos conflitante do
que qualquer outra. O Budismo, talvez, o menos nocivo à saúde intelectual
humana, também é uma forma de poder. E o exerce de forma econômica como
qualquer outra.
Nada,
em termos religiosos e políticos, é mais seguro do que encontrarmos no outro a
imagem e semelhança de nós próprios. O contrário, o diferente, nos ofende,
tanto quanto a sua liberdade de pensar e agir fora de nossos padrões tão bem pré-estabelecidos.
Ao
determinarmos padrões, por si só: excludentes, determinamos a matriz da
desigualdade: criamos os processos de seleção: firmamos os contratos sociais e os
delimitamos aos quais se aplicam as regras que, por razões consuetudinárias, queremos
que sejam descumpridas, e, aplicar-se-á a lei sobre todos aqueles que - exclusos
de antemão - não fazem jus ao beneplácito da liberdade imposta.
E,
é neste sentido em que o Estado torna-se algo impalpável. Torna-se impossível
ao senso comum prever qual será sua dimensão.
Por
um lado, há a necessidade dele, do Estado representativo, de consolidar
direitos inalienáveis da humanidade, seria sua virtude. Para tal é necessário
educar: conceber a liberdade de
pensamento e criação humana enquanto fundamento para a realização de justiça e
desenvolvimento humano.
Por
outro lado, é exatamente isto que o que lhe tolhe, ao Estado, o amplo espectro
de domínio, pois a crítica requer domínio de si, autonomia, autocracia:
ciência: consciência de si e do mundo ao redor. Valorar o outro. Aceitar o
outro em suas dimensões. Ter senso de comum. De rés pública.
E
isto, em uma sociedade maquiavélica, erguida sobre “o tudo a qualquer preço”, a
sociedade do ganho em si, é impossível.
Logo,
não tendo como perder sua representatividade, que é seu ganho, perde-se a sua
necessidade de garantir direitos inalienáveis da humanidade, voltando-se apenas
para a autossubsistência de seus inequívocos processos de dominação, quais
sejam: a corrupção sistêmica e o terror e o pânico generalizados.
Entende-se
que o Estado, portanto, é um componente virtual da sociedade. Não real. Reais
são as consequências desumanas criadas a partir de sua não mediação de
conflitos, de sua tendência voraz em transformar o bem público em uma extensão
do bem privado, razão mor de determinadas correntes políticas.
Ao
não exercer a moderação, a probidade, que se expressa em políticas de Estado e não
de governos, desfaz-se, em nome do mal comum, a solidez, a liquidez econômica
de nações inteiras em função de poucos e seletos grupos e conglomerados
empresariais e financeiros. Não mais que 100 famílias ao redor do globo.
É
um Estado de coisas, para coisas, por coisas. Inumano, apenas. Logo,
inexistente per si.
