Como doutor na cátedra da casa dos estúpidos, devo, sublime,
afirmar socraticamente: nada, absolutamente nada, sei.
E nem mesmo aquilo que possuo, deveras, me pertence.
Este empréstimo literal, advindo de tantos amores, me constituiu
pessoa crítica. E chata: ser, aos cinquenta anos, uma pessoa indesejável é algo
bom. Faz-nos uma possibilidade de grandes incertezas. Os erros passados não nos
pesam tanto quantos aqueles que não poderemos mais cometer.
Aprender é estar no mundo.
E enquanto livre é tudo.
Ensinar algo assim também deveria ser, mas somos estúpidos
demais para admirarmos a simplicidade do bem estar e do bem viver: a beleza do
amor nisto está e consiste. Não mais. Não menos.
Encarcerados sob circunstâncias que nós mesmos criamos, nos
tornamos escravos da vaidade e do orgulho – ora nossos, ora alheios - que nada
produzem, senão um espelho daquilo que realmente somos: mesquinhos. E
invejosos. Ou, se preferir: estúpidos! Ignorantes! Tiranos, vis!
Todo poder e
autoridade são transitórios. Nem mesmo o conviver é perene. A fugacidade do
tempo contradiz-se ao carpe diem.
Tudo em nós são hábitos.
Alguns reproduzidos, outros criamos, mas todos senhores.
Dizem os doutos: escolhas. Revelam-se: escolas. E, aqui, ambas, no termo
devido: stagium. Escada, degrau,
andar. Galardão.
Dizem que vida passa...
Não é verdade.
Quem passa pela vida é o imbecil e suas inúmeras
ignorâncias, justificativas e desculpas.
Viver, por si só, já é ser indescupável. O indescupável vive!
Cria e recria, recrea-se. Aprende, desaprende, une e aparta. Seleciona.
O amadurecer nada ou pouco tem a haver com a temporalidade.
Chega a soar como se fossemos frutas: verdes na infância; maduras na idade
adulta; e podres na velhice.
Aos cinquenta anos – infinitude temporal, tudo o que um
homem pode afirmar é sobre o que não sabe ou pensa saber. Logo, recomeço.
Reinventar-se. Não mais que isto.
Aos quinze anos nada sabemos. Aos cinquenta, menos ainda...
