quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cícero decantado

O que lês, Teseu, envio-te daquela praia,
donde, sem mim, as velas levaram teu barco;
onde o sono perverso me traiu,
do que perversamente tu te aproveitaste.

Homero

Desnudo


Em despedaços despede-se Morfeu

Orfeu agora jaz sem Eurídice

A procura por entre escombros dos sem lares

Um braço sem abraço

Silencioso como boca sem beijo

Um barco calado fundeia na cripta da desventurada espera

As velas rasgadas

O casco perfurado por gentis homens

O mastro quebrado pela borrasca das infâmias, injúrias e maus tratos

Diria amor se o houvera

Cantaria se aprouvesse alguma alegria

Ao costado sem cabotagem um verso

Que não é verme nem gérmen

Eólo ergue-se triunfante a questionar Poseidon

Sobre as crueldades de Apolo

Eros e Tanatos seguem opostos pelas estradas de Damasco

Invejas cravejadas de orgulhos e vaidades

Triste paradoxo o viver prisioneiro de uma liberdade inexistente

Não faz sentido tudo ou qualquer que seja o desmedido

Pompeu lamenta-se por sua honra tanto quanto

Toda a ética se dilui antes do pão ou

Diante da cicuta

Dormem todos segundo a relva, o arreio e o arado

Em paz, apenas os covardes.


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