sexta-feira, 22 de março de 2019

Le Brèsil ne c’est un pays sérieux


Le Brèsil ne c’est un pays sérieux
O que podemos (des)esperar quanto ao (des)governo que se instaura (Parte I)
José Dias

Capítulo 1: O poder da história e a civilização humana: ou socialismo, ou barbárie!

A melancolia é a primeira fase do desalento; a desesperança, a sua última e cruel face.
Não obstante a todos os avisos, análises, inferências, embasamentos teóricos, somados às práxis histórico-sociológicas, a desconstrução de 20 anos de parcos progressos sociais na garantia de direitos civis, políticos, econômicos e sociais do povo brasileiro ocorre em tempo recorde. Mais que isto: afirma-nos o nosso fracasso enquanto povo, nação, soberania no passado, e o assegura no porvir!

Nada há de se postular além da ignorância de um povo como um todo, mas não mais do que a subserviência irresponsável de uma elite colonial conservadora, ou seja: escravocrata, preconceituosa, homofóbica, racista, monocromática, enfim, uma elite hipócrita e que serve incondicionalmente a interesses outros que não pátrios.  Logo, concluí-se sê-la profundamente ignóbil quanto a sua própria sobrevivência, na mesma proporção em que nada mais tolo do que a extrema dependência de terceiros.

Considera-se que a história é a salvaguarda de todo o desenvolvimento humano, uma vez que nela repousam os aprendizados obtidos no passado, e, que somente a partir de sua reflexão, alcançamos o desenvolvimento científico e tecnológico, que permitem-nos a construção permanente da civilização através do domínio técnico das ciências e sua produção de conhecimentos acumulados através das eras e desvelados, gradativamente, no dia-a-dia da humanidade.

Há quem distíngua as ciências humanas das demais. É um equívoco. Não há desenvolvimento social sem a aplicação do desenvolvimento técnico em prol do bem estar comum, nem tampouco é possível crer que o desenvolvimento técnico tenha outro propósito que não seja a promoção de qualidade de vida para os seres humanos. Ao menos, virtuosamente pensando, supõe-se e espera-se.

Quando observamos a idéia de civilização, é preciso compreender que ela não está vinculada aos conceitos de produção e consumo, embora muitos assim creiam. Mas não. Não mesmo: civilização consiste em humanidade. Em socialização. Em partilha. Em garantia de direitos humanos e sua universalidade: co-responsabilidade e co-participação social, política e econômica entre os membros de uma mesma comunidade, grupo social, tribo, clã, sociedade. Produção e consumo são peculiaridades do ser econômico. Civilidade, um caráter humano.

Sendo assim, ao pressupor-se - por uma ignorância humana – que o poder é submisso à produção e acumulo de riquezas (materiais ou não!), logo, distintos no contexto civilizatório da idéia de território enquanto não propriedade humana, ou seja, representativo daquilo que lhe é - enquanto ser humano - fundamental à sua existência cultural: seu idioma, sua etnia, suas crenças, sua real identidade enquanto povo, comunidade, grupo social, tribo, clã, sociedade, criou-se a categorização genocida entre o que nos é civilizado e o que nos é barbárie.

Neste contexto, ao avaliar-se que a suposta felicidade humana é plena à todos aqueles que alcançaram a prelazia de auferir um assalariamento, um ganho, uma renda de US$7.500,00 (sete mil e quinhentos dólares) mensais, e que ganhos abaixo do que isto, embora não traduzam-se por miséria absoluta ou pobreza, e que, no sentindo inverso, ou seja, ganhos superiores a isso não são sinônimo de riqueza e/ou empoderamento, mas que ambos traduzem-se por desigualdade econômica e má distribuição de renda, é um sinal de que em pleno século XXI não há muito o que se pensar senão na supremacia futura (e bem próxima!) da barbárie.

Não é, portanto, e de forma alguma equivocada, a afirmação de que a barbárie é civilizada e aceita como tal, quando os pilares da sociedade firmam-se em fundamentos econômicos que não primam pela distribuição de renda e garantia de direitos universais. Em ultima análise: a simbiose entre corruptos e corruptores não é uma exclusividade de países pobres ou em desenvolvimento, mas uma prática de subsistência das nações centrais, ávidas por povos-nações subservientes.[...]

Eutanásia diplomática.

Eutanásia diplomática.
Considerando o patético cenário das Relações Exteriores brasileira atual, imposto pela nova (não tão nova assim!) (indi)gestão nacional, devemos compreender que caminhamos do CTI das duas últimas gestões, para a eutanásia diplomática e cremação pública do espólio de 20 anos de lutas, avanços e retrocessos na defesa inconteste dos interesses nacionais e, em particular, na consciente ação de neutralidade e multilateralismo na preservação da soberania e independência nacional, em face aos arranjos geopolíticos em voga.
O encontro social entre dois líderes que mentem descaradamente acerca não apenas das intenções, bem como firmam-se em decisões que não lhes cabem a autonomia de julgamento, assombra, não pelo ridículo futuro de tais engôdos, mas pela total ausência de responsabilidade para com a República brasileira e o desrespeito aos seus compatriotas aqui e no exterior.
A reciprocidade é a base de todo ato diplomático, no qual a ponderação deve mediar conflitos e exercer a política de justiça e equidade entre as partes em acordos.
Espanta-nos a ignorância histórica-sociológica e geopolítica da realidade pregressa e suas consequências para o Brasil, bem como dos movimentos econômicos que aí estão e que já dão pleno sinal de iminente crise do capitalismo, com uma crise internacional ampla e irrestrita já para o próximo semestre e que deve se arrastar por uma década (ou mais!).
A atitude subserviente aos interesses norte-americanos irá arrastar-nos juntamente com eles, posto que serão os primeiros a sentirem o peso de suas equivocadas decisões econômicas, e, creiam ou não, com os níveis exacerbados de valorização das bolsas de valores e uma não regulação adequada dos derivativos em uma suposta monta de 40 trilhões de dólares em papéis, cujo lastro não comporta o físico de 10 a 15 trilhões, somada a retração e desaceleração do sistema produção x consumo, é uma temeridade não atentar-se para o fato de que não é cedendo à conveniências pseudo-ideológicas que se consolida o mínimo de desenvolvimento social e econômico.
Este desenvolvimento social e econômico depende muito mais do desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação tecnológica próprias; de defesa e proteção jurídica das riquezas nacionais e sua distribuição universal enquanto insumo básico do bem estar social nacional; da efetiva distribuição de renda e preservação das garantias de direitos para e de seu povo; combate frontal e permanente a toda e qualquer injustiça; combate intermitente à todas as formas de corrupção.
Este desenvolvimento social e econômico depende muito mais da redução dos juros oferecidos ao empresariado e ao consumidor final e, por consequência, da dívida pública que favorece única e exclusivamente ao cartel bancário que se instaurou no Brasil.
Este desenvolvimento social e econômico depende muito mais da cobrança efetiva de impostos justos e paritários e sua contrapartida de bens e serviços de qualidade, voltados para o bem estar do povo brasileiro.
O Estado é pago, é mantido com taxas e tributos!!! Tributos estes, frutos do trabalho, da produção e do consumo do povo brasileiro. Não é isentando empresas que se desenvolve uma nação; não dando privilégios à categorias que se gera desenvolvimento. Não. Tais benesses foram e são a porta de entrada para o inferno do descontrole fiscal, tributário e previdenciário no qual nos encontramos, e são a dorsal de toda a corrupção brasileira.
Enfim, ao abrir mão da reciprocidade, seja no que for, enquanto diplomacia, abre-se um nefasto precedente. Ao abrir mão de conquistas anteriores, ainda que pífias, abre-se um nefasto precedente.
Perde-se, mais que o respeito alheio, posto que demostra-se não a subserviência em si diante do beneficiário, mas patriotismo algum daquele que abre mão de prerrogativas históricas de sua diplomacia e, como consequência, sepulta-se a confiança das demais nações, estejam inclusas ou não no surrealismo fantástico que é uma política externa sem consciência de suas consequências ou do que venha a ser credibilidade.
Como afirmara, outrora, em outro artigo: aquele que promete retirar direitos em prol de uma suposta empregabilidade, negará os dois. A visita social já nos prova o quão de trabalho, emprego e renda teremos no porvir, bem como qual o tipo de assalariamento podemos esperar...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A sensatez dos estúpidos

José Dias


A sensatez dos estúpidos

José Dias

A primeira coisa que se pensa ao idealizar sensatez é a saúde mental. Algo que nos falta em grande escala na sociedade global.  E, que raramente é exigida no campo político e que, vez ou outra, alcança o pensar econômico e financeiro, mas jamais o ideológico-religioso.

Óbvio que o tempo é passageiro, fugaz e, por tal natureza, pertence aos que convivem com sua geração em sua própria era, idade, esfera. Mas a capacidade humana de ser ignóbil e de cometer extremadas atrocidades, esta, sim, é infinita. Nem a morte, talvez a única certeza que possuímos, nos garante tamanha eternidade quanto a ignorância humana.

Embora, possamos afirmar que a realização da vida é a realização do trabalho humano, pois é nele que as relações sociais e econômicas se consolidam; pois é nele em que há real transformação de idéia em prática; da imaginação em ação ou produto; do sonho em realização, e, também possamos afirmar da natureza não pecuniária do trabalho em si, pois o tempo, este que afirmamos: passageiro e fugaz, já é a paga de sua existência e, seja ela coletiva ou não, há de se compreender suas distinções, posto que trabalho, emprego e renda são estabelecimentos distintos e não necessariamente convergentes.

É preciso entender que trabalho é um pertencimento do ser e que lhe é identitário cultural, seja assalariado ou não. Na máxima secular: não existe almoço sem pagamento!, há de compreender que não há gratuidade: o alimento, seja qual for, é oriundo do trabalho direto ou indireto daquele que se alimenta. Pode-se não pagar por ele, mas alguém já o fez! Seja de forma monetária, por escambo, trabalho intelectual, mecânico ou braçal.

Da coleta de frutas silvestres à colheita de cereais; da caça e pesca de auto-suficiência ao abate de bois em escala comercial; do pensar ao traduzir o que se pensa e transformá-lo em arte, ciência, educação e cultura, tudo é trabalho: a vaidade das vaidades!

Afirma-se que de todos os trabalhos, o mais caro é o exercício do poder político. Como todos somos seres sociais, políticos e econômicos, somos sempre subordinados às ideologias em vigor. E, obviamente, não há apenas uma ideologia possível. É, portanto, no contraditório em que se afirmam as relações ideológicas-políticas.

Neste sentido, é compreensível que coexistam, em um mesmo território, dicotomias éticas e morais, sustentadas pela ambição pelo poder e sua perpetuação enquanto dinastias. Uma herança tribal. Apesar de estarmos no século XXI da era cristã, ora nos aproximamos e reafirmamos nosso estado medieval, ora nos damos conta de que não saímos da pré-história. Não que as crenças primordiais sejam nefastas, ou que o tribal nos seja arcaico. Mas, em um mundo onde o sentido de humanidade é relativizado pela escassez e não pela fartura, há algo muito errado até nos equívocos entre mito e mística, entre fé e teogonia.

Observa-se que a teocracia moderna é algo assustador. Alcança uma destruição linear e constante, maior do que plutocracias. Quando falamos de sensatez, com todos os riscos inerentes à corrupção humana, uma das idiossincrasias do exercício do poder, a democracia, quando inclusiva e participativa, pode ser considerada como um exercício saudável de construção de direitos e deveres humanos. Ressalta-se que o problema nunca está na forma de governo, no sistema ideológico que defende. Mas na cleptocracia que se instaura para a sua manutenção.

Quando unem plutocracia e teocracia, raramente há algo além do que uma cleptocracia institucionalizada, na qual a hipocrisia impera em detrimento da miséria e fome de seus súditos ou crentes, sempre fiéis depositários de uma esperança inócua. Por detrás de uma  suposta democracia ou monarquia onde tais elementos se fundem e mesclam-se no senso comum dos concidadãos, tem-se a certeza de que a paz dos estúpidos só é conquistada através da ditadura.

Na modernidade - e há de se reavaliar o que tal termo define ou a qual situação remete -, as incoerências ideológicas fogem ao mínimo da racionalidade e não definem sequer um padrão digno de confiança jurídica ou institucional.  Mais que isto, nem mesmo a academia, com sua milenar produção de conhecimento histórico-sociológico consegue explicar adequadamente a realidade catastrófica na qual o mundo - supostamente globalizado - se encontra.

“Ou socialismo, ou barbárie!”, frase redutora de todos os entendimentos e proferida por uma das mártires do anti-nazismo (Rosa Luxemburgo), nos remete a questionamentos seculares e ao consolidar da barbárie enquanto modo de controle e gestão social. É esta a sensatez dos estúpidos!

Uma sensatez que permeia o pensamento econômico que se mantém através do bélico. Afinal, nada mais lucrativo do que o descartável. Do que lançar um míssil de um milhão de dólares e ter repor outro novinho em folha. Independente, é claro, dos danos diretos e colaterais. Danos estes que se representam, à exceção das vidas humanas ceifadas e/ou destruídas em suas identidades sócio-culturais e étnicas, por um ato de libertação e reconstrução por aqueles mecanismos que os destruíram, normativamente por fatores econômicos e de exploração de riquezas, ou meramente estratégico de contenção de seus concorrentes, nunca adversários. Este cenário, há de se ter a prudência de esclarecer, só é rompido quando contratos são quebrados unilateralmente. Ou seja, as primeiras e segundas guerras nunca foram ideológicas. Foram econômicas e causadas por rompimentos contratuais que prejudicaram, e muito, povos e nações.

Ascensão de tiranos ao poder geralmente não se dá por questões ideológicas. Não se trata necessariamente da forma de governo ou do sistema econômico. Trata-se de uma elite que se vê acuada diante das demandas sociais, políticas e econômicas que sua concentração de renda e poder causam ao povo que a sustenta, e teme, por conseqüência, perder seus monopólios.

Associada aos plutocratas de plantão e aos meios de comunicação de seu tempo, propagam o pânico e o terror: incentivam o canibalismo intra-social entre as classes média e baixa. Com argumentos de cunho ético e moral, promovem a extinção das minorias e opositores ao regime, impondo-lhes a responsabilidade dos desvios de condutas e catástrofes econômicas que trouxeram o caos, onde antes – afirmam: havia a ordem e o progresso. O que é completamente falso, pois o caos é produzido para que assim a elite governante possa exercer com plenitude todos os desmandos e legislar em benefício próprio.

Como raras são as nações que alcançaram uma pujança social-democrata representativa dos interesses de seu povo, ou mesmo um socialismo de coalizão e co-responsabilidade estatal, o fato é que o povo, este algo numérico, muito mais demográfico e figurante de estatísticas cada vez menos confiáveis, tornou-se apenas um insumo econômico. Uma matéria prima abundante, que tolhida em suas necessidades básicas, tende a encontrar no que julga o forte, o lenimento de suas fraquezas, suas inapetências, incompetências e limitações. Toma-se por dependência o que lhe seria de direitos humanos universais.

Em grande parte do globo há o imperar das desigualdades. A corrupção humana é algo inerente àquelas sociedades onde não há respeito aos direitos humanos, mas não uma exclusividade destas. É uma questão ética, na qual o conceito moral varia de acordo com a cultura de subsistência de cada povo-nação. É notório que nações submissas ao autoritarismo são plenamente corruptas. Onde há excesso moral ou fundamentalismos de ordem religiosa, a elite é corrupta e corruptora. Logo, a corrupção é um ato cultural. Observa-se em grande monta na América Latina e no continente Africano uma generalização, senão a banalização, do ser corrupto.

Há países onde nada se realiza institucionalmente nas esferas pública ou privada que não seja objeto de sonegação fiscal, evasão de divisas, corrupção ativa e passiva, peculato, fraudes de todos os tipos, e, fruto nefasto deste sistema, há a seletividade jurídica quanto à responsabilização por danos ao erário e/ou a impunidade pura e simples dos agentes políticos e corporativos que lesam a pátria. Semideuses da atualidade juízes e políticos tornaram-se extraclasse.

Tal raciocínio e comportamento, algo muito mais elaborado no presente dos fatos e fotos, mas que possui a sua origem na Antiguidade e sua estruturação na Idade Média, formatou o Absolutismo e transcendeu aos tempos modernos pavimentando o teocrata capitalismo selvagem como uma vontade divina, onde - não raro – há a idéia de que o poder do mandatário o foi concedido por graça divinal, através da confiança depositada por seu povo no sufrágio universal, quando o há, e não por uma escolha de interesses peculiares aos que lhe são pares ou patronos.

A sensatez dos estúpidos é abominável. É ela que nos garante a supremacia da injustiça e a eternidade da ignorância.