domingo, 12 de setembro de 2010

Confissões

Jodhi Segall

nasci em algum tempo
em algum lugar
nada sei de mim ou do mundo
e isto me faz viver

declaro inexistente a esperança

sem ela
todos somos crianças

um dia cresci e foi horrível
ser homem é não existir

nos demais
envelhecer ou morrer de acidente
causa natural
da busca
do medo
do espanto encontro
ou simplesmete
da simplicidade das coisa que
com tanta eficácia e eficiência
além ou aquém das dificuldades
naturais das coisas
edificamos
ou não

Amores perfeitos

Jodhi Segall


ali
na lateral
o litoral e a
nuvem

uma sereia cantou aqui

e tudo se recriou na imperfeição

do amar

restou-se

o mar

Lux

Jodhi Segall

terras de ninguém

o corpo

meu teu outro teu meu
nele em mim em ti
noutro alguém o
vortex

no velório amém

e diz-se amar
aquilo que não tendo
não contém

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Incompletude

Jodhi Segall



Incompletude

completa a mente

formão sêmem

sentido sentindo amanhecer poente



todo poesia

nome figura quadro

imagem



Ídolos se constróem a muitas

mãos



negar negar negar



Inconcretude



pobreza miséria fome

amor sem lua

rua sem destino

rio sem meandro



E o fim.

Sempre incompletude

vida e finalidade...



Patético.



poético cético: o crítico não suporta a beleza alheia



contentamentos testemunhos julgamentos



somos completos na inveja

no orgulho

na vaidade

na luxúria

na gula

na avareza

e na ira



vícios vazios preenchem lacunas

somos iguais no horror e na vingança



Não se vive de esperança, o real se abasta

em nua incompletude.

Amor, sublime amor

Jodhi Segall



Ah! O amor... Este sentimento que ultrapassa a vida.

Cantado em versos e prosas por todos cantos,

Na voz de todos os poetas,

No coração de todos os homens!



E é tão simples...

Soar harmônico, ser bem estar.

Nada reter, sempre doar.



Não é algo tátil, não se pode tocar ou consumir.

Livre, por sua natureza etérea,

Vaga por todas as vidas na eterna incompletude.



Não é misterioso, não há segredos.

Simplicidade é um de seus nomes;

Existe em várias formas e ocupa todos os lugares

Onde é aceito como conviva.



Silencioso e discreto, não gosta de alardes;

É como um bom perfume que enebria com

Suavidade e calor, mas nunca aceita excessos.

Como um bom vinho, é algo que precisa maturar

Para ser vivenciado em seu esplendor.



Ah! Existem muitas formas de amar,

Mas a melhor delas é aquela em que não precisamos de palavras.

Mas, cuidado!! Não se pode despertar o amor antes do tempo...

Humilde e paciente ele aguarda o despertar da primavera.

Acolhido com alegria e ternura,

Respeito e bom senso,

Viverá entre nós até o outono.



Ainda o viveremos no inverno.

Nesta estação tudo transcende, ascende.

Nesta época ele hiberna, sublima.

É quando nos percebemos amantes e amados

Ou, quiçá, solitários,

Fim de quem não soube amar...

Feliz Cidade

Jodhi Segall
Aos Mestres e Mestras que tive



A minha cidade é pequenina como um grão de areia.

Ela é miudinha. Tem o cheiro gostoso da chuva

Quando molha a terra.

Não tem muros nem grades.

As pessoas andam livres pelas ruas,

Sem pressa alguma, no ir e vir do sempre amar.

As casas são corações abertos ao mundo,

Simples, como tudo a ser entendido deve ser.

As crianças brincam em suas praças,

Não há lobo mau nem bicho papão.

O sol da minha cidade brilha no olhar de cada cidadão.

Somos todos uma grande família,

Avós, Pais, Tios, Primos e Primas,

Irmãos e irmãs.

O tempo, na minha cidade, corre lento no vagar das horas.

Nelas tudo se acomoda entre o lírico e o concreto.

Os jovens cantam, dançam, representam pelos seus

Palcos de amor e graça e gratidão.

Os adultos se assemelham, se aconchegam, se acolhem

Em leitos de labor, prazer e temperança.

Meus idosos nunca envelhecem, estão sempre entre

Adolescer ou ser criança.

A morte, na minha cidade, é uma companheira de viajem.

Nos diz para bem vivermos: nada há a temer a quem vive

Com amor e suavidade.

Nos ensina, em seus diários, o valor da liberdade!

Há de se ser justo, verdadeiro, leal e companheiro.

A minha cidade é bem pequena, é verdade.

Grandes, mesmo, são as pessoas que nela habitam.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Coimbra

Jodhi Segall

Não mais ao largo a nau entrava
O Tejo de Ribeira d'Oeste
A Guanabara de galés e galeões submersos
Ou os recessos de outras baías

Aquela doce estrela matutina
Do além mar tão distante
Este oceano dentro de cada palavra
Pensar agir quiçá sofrer

Como quem lavra termos esquecidos
Ou navega simplesmente
Rir seu riso mais feliz sem se importar
Do fato ou ato circunscrito

Coimbra desponta na aurora
Após Amarante ou Trás dos Montes
Pouco importa o geográfico
Ao Porto e seus históricos marcos

Os versos ultrapassam seus mitos
Os poetas transcendem seus versos
O medo só existe naquele que perfeito morre
O amor é a imperfeição de toda incompletude

A nau entrava ao cais das desventuras
Fez-se a sotavento às águas derradeiras
Adernou frente ao rochedo estilhaçado
Por fim Coimbra desnudada

Ó Gibraltar, Gilbratar,
Eis-me aqui, filho de ti
desmesurado...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sophia

Jodhi Segall

Quando duas pessoas se unem no intuito de transformar uma realidade social, seja ela qual for, não só realizam o inimaginável, como, demonstram na prática que o impossível é apenas uma palavra oportuna na boca dos indiferentes.

Tântra

Entre óleos perfumados e velas aromáticas
Desnuda a alma seu perfeito
Os corpos ali desfigurados entre estrelas e nebulosas
Tocam-se na imensidão astral
As mãos sublimam cada poro
E os chacras se ordenam a cada lento respirar
Inspira
Expira
Explora, implode, explode
Guia e desventura
Cria e recria
Riso e choro
Agônia e êxtase
Morte e libertação
Renascimento

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Despedida

Jodhi Segall

Fogão de lenha e minha enxada
Adeus minha foice e este arado
Ao meu cerrado digo adeus
Minha vila campesina
Meu amor, meu bem querer
Minha vida campesina
Por onde for
Levo você

Minha tapera pau-a-pique
Adeus ranchinho beira chão
Deixo um riacho entre as matas
Levo o riso de um irmão
Poeira e pó de minha estrada
Terra minha minha amada
Um dia eu volto a te ver
Minha vila campesina
Meu amor, meu bem querer
Minha vida campesina
Por onde for
Levo você

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Carta de um flamenguista para uma corinthiana

Jodhi Segall


No final das contas, vê-la foi algo profundamente útil e necessário. De certa forma fiquei aliviado. Sinto-me menos estúpido, menos patético, menos apartado do mundo e de minhas múltiplas realidades. Embora ainda haja um ranço de mágoa e um rancor vingativo, pois não era esta a história que eu gostaria de ter escrito, apenas a (im)possível, posto mal vivido e dividido em centenas de lacunas e ausências - deficiências minhas, não suas - mal amado, devo ver-me não tão verme, tão nada, tão ninguém! Não me sinto tão fútil, tão frustrado, tão bloqueado como antes... O meu desamor ainda perpassa. Aos poucos vou retomando hábitos saudáveis, reduzindo a angústia e a ansiedade, recuperando meu crédito. Visto-me melhor. O sono aos poucos retorna ao lugar e tempo de origem e não me importo com quem quer que seja. Não há tempo para isto. Tenho a minha filha e uma boa dívida. Estou trabalhando, aos trancos e barrancos, é verdade, mas ao menos não estou mais vinculado à fundos de garantias.Tenho alguns álibis. Fazendo dança de salão e voltando a correr... voar, quem sabe? Quiçá, fazer ioga? Tenho escrito mal, bem sei, mas perdi o gosto. Há ainda um certo desgosto em minha boca e seus cacofônicos dentes podres: triste o riso dos ignorantes! Um pouco assustado com a decreptude, com esta velhice precoce e sua andropausa, resquícios de tabacaria e cachaça e decepções contíguas: fraquezas, frivolidades, idiotices. Sou obrigado a concordar: o amor é aquilo nos torna pessoas melhores! No final, amar é libertar-se de si.
Mas, feliz é aquele que faz as coisas para e por si. O outro é uma extensão de consentidos. Ou mera contabilidade... Assim que puder, acerto as contas e outros esquecimentos. Lembranças aos seus, respeito aos nossos. Sem restos, raspas ou ossos. Amor.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Cume

Jodhi Segall


O cume nunca esteve tão perto e tão distante. Não sei dizer do errante, ser ele um vulcão ou um buraco negro. Mas contudo, certamente estrela guia, a valsar por entre nebulosas e a desbravar novas galáxias. Deste singelo olhar de outrora amante, entre o porvir e o agora, são teus delírios de cigana em êxtase dançante que embalam prazeres interestelares. Assim, duas almas livres e soberanas se encontram no infinito e se amam em despudor: o sol e a lua se despem de suas nobres vestes, as estrelas iluminam o céu de nossas bocas... Um gozo intenso e tênue banha o mar, inunda oceanos; um arrepio tenso, um gemido agônico, uma pequena morte, um renascer para a eternidade. Sonar, soar, luzir, vou dormir, amor, dentro de ti.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Porcos Espinhos Também Amam!

Jodhi Segall
Uberlandia, MG,
27 de janeiro de 2010.


Há termos não escritos na imensidão de amar:
Quem não conhece a liberdade vive ao outro a espetar!!
Invejas, orgulhos, vaidades, todos cabem nos vazios das inverdades.
Ao outro, sempre um canto simples como aconchego e lar e asas...
A porta aberta, nada mais é necessário.
Porcos espinhos também amam!
Aprenderam que feridas necessárias são sinais de sobrevivência ou morte.
Evitam, jogam fora as dores inúteis, fúteis, desnecessárias.
Semeam os campos por onde passam.
Revitalizam flores, campinas, florestas...
Iluminam os bosques da imaginação.
A vida é sempre maior que seu próprio tempo:
Este amar para além de si...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Fisioterapeuta

Jodhi Segall


Para Nivalda Marques do Nascimento
Uberaba, MG, 20.01.10

Ah, meu amor não fique triste
Saudade existe para quem sabe ter
Minha vida cigana me afastou de você
Durante algum tempo terei que viver
Longe de você...

Vida Cigana (Geraldo Espíndola)



Sofri tantos acidentes na vida
Que agora preciso urgente mentes
De ajuda especializada...

Uma reabilitação:

Para meus cegos olhos, teus risos;
Para minha otite média crônica, teus sussurros e gemidos,
meus solfejos aturdidos em teus olhares e dimensões...

Para minha insensatez desordenada, teus desejos mais sagrados;
Para meus lábios tão sôfregos de demasiadas esperas, lunações, estradas,
teus beijos;
Para meus braços, cansados de tantas lutas, teu aconchego: abraços,
carinhos e volúpias...
Para meus pés, tuas danças e descaminhos.

Para meu coração descompassado, os compassos de tuas felicidades;
Para este amor tão grandioso, toda a nossa liberdade.
Eterno em nós, tudo é saudade...

Quiçá, feliz assim na infinitude, encontremos juntos um
entardecer sem julgamentos.
Preenchido de ti por minha vida inteira,
talvez me bem resuma, em suma,
meu sumo ou nunca existi!

PS.: não mais sumas...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Embriagado

de amor e outros escritos

Jodhi Segall

Embriagado
De Amor e de outros escritos

Uberaba-MG, jan. 2006

1

Dos brados de homens faz-se verbo.
De suas preces justificam-nos atrozes.
Ergue-nos lança, adaga, espada.
Homem-aço, laço faz-nos gume de navalha.

Enternecer.

Girar cirandas por congás, folias, catiras e rodas.
Doridas, embriagar-se nos confins do universo.

Rei, senhor, sacerdote, profeta;
Mago, grão-mestre, semideus...

Imortal.

Liberdade, justiça, verdade!
Honra, coragem, dever e sacrifício.

Fênix de carnes e ossos:
dignidade,
equidade,
lealdade.

Sob o triplo sol de Leão, sob as hostes do Dragão:

Glória a Marte, Morte a Eros!

2

Embriagado.

Defenderás os pobres, os órfãos, as viúvas.
Erguerás tua voz contra as injustiças;

Com tua tez vestirás os nus.
Com tua insensatez darás bons conselhos.
Em tua loucura promoverás a justiça.

Tua nudez será sagrada nos óleos do prazer;
Tuas mãos modelarão o barro indócil do saber.
De teu olhar verterá a humildade, o entendimento,
a fortaleza.

Sob teus pés depositarás as asas do firmamento:
temperança, perseverança e fé.

Erguerás teu clamor e todos os deuses te ouvirão.

Liberdade, justiça, verdade!
Coragem, determinação!
Ergue tua voz.

3

Embriagado.

Ruas, praças, avenidas.
Esquinas e vidas.
Um coração selvagem caminha pela noite escura.

Arca, ponte, portal e chave.

Cavalos-marinhos alados te protegem.
A lua te envia melodias de ternuras
e encantamentos.

O sol aquece o coração selvagem.

4

Embriaguez.
Embriaguez completa.

Alea jacta est.

Epifania divina de não ser.

Loucuras visionárias
(con)textualizadas em planos outros.
Infernos delirantes
de demônios interessantes
e magníficos.

Criações sem criaturas.
A verbe e o estro, o mastro sem maestro.
A nau flutua sobre as nuvens e epidermes.
Não passamos de uma hibridez
de inseto e verme.

Predadores, parasitas, detratores.

Consolo humilde: o homem morre em seus mitos...

Revolução: destrua tuas caravelas.
Apague tuas velas, sangra tuas veias.
Rasga tua terra. Vê tua cova rasa, silenciosa e tudo.

Nada cala o mundo: ao sair,
pague a conta.



5

Famigerada espera de compreensões
ao longe das manhãs.

Ao largo se posicionam as frotas sem rotas,
rôtas de tantas eternas parcas palavras.

Parvas.
Podres.
Vazias...

Naufragante, embriagado...
Terra a vista no prazo das auroras.

Sic transit gloria mundi.

Oh! Com certeza!!

6

Embriagado.

Insular.

Arquipélago telúrico, interestelar.

Plêiades se curvam ao digníssimo.
Ilhotas medíocres se intitulam titulares do credo.

Deus ri-se das infâmias, chora dos risos.

Um Cristo entronizado entre os pobres rebelou-se
ao descaratísmo.

Melhor ser apóstata.

Somos aleluias.
Embriagamo-nos todos no amor e na paixão da luz.

Desnorte, dessorte.
Nesta cruz
cada qual é sua própria morte.

Despidos banimos os mercadores.

Minha nudez tão tua.
Meu coração tão teu.

7

Embriagante embriaguez
que me embriaga a alma
e me dilacera a carne.

Esquatejamentos...

Vestidos. Vestes são máscaras.
Oh! Como somos tão ridículos sem elas...

Púrpura, magenta e laranja.

A noite vem.
Um gosto de imensidão.
Profundo é o mergulho na abóbada dos mitos.
Cada estrela, um reflexo do refluxo dos idos.
Sob os pés, o mármore.
Homens não são rochas. São tochas.
Frouxas. Frágeis. Tremulantes...
Como somos imbecis.
Estúpidos. Tiranos. Vis.
Como somos miseráveis...

Tato e paladar.

Divino é ser humano.


8

Homeopatia astral.
A noite brilha muito além dos néons.

Um grilo falante brinca de super-homem na boca do sapo.
A princesa beijou-lhe a boca desdentada, mas ele não
virou príncipe. Um jacaré azul valsa
com uma baleia Jubarte.

A dama, ao rei devota sua passagem fugidia...

O lobo mau é bonzinho.
Nunca se esqueça, minha filha:
o lobo mau é bonzinho...

Fazemos mapas astrais nos céus plurais de multibocas.

Tem um coelhinho na cartola do mágico;
Uma poção de amor no chapéu da feiticeira.

Oráculos...
Jogam-se runas entre as esquinas,
numerólogos arquitetam o porvir nas mesas de sinuca.

Diante ao oratório,
um pedido a estrela cadente:
seja-me fiel por dez minutos.

Um trago sem estragos.
Um divisar sem divisor.

9

Embriaguez apaixonante.

O cafetão reclama o bem de seu não pecuniário;

Ela recusa-se a dizê-lo não amante.

Ó, espanca-me!
Toma minha alma!
Meu gozo, meu amor...

Dádivas são dívidas.
Nunca se esqueça, minha filha: dádivas são dívidas...

Mais um trago...
Mais um beijo na boca do diabo...
Mais um gozo sem estragos.

Não, não morde,
não marca,
meu marido é ciumento.

O beija-sarjeta, o cantar do clandestino,
o devotado ao sem destino.

Prazer e dor.
Prazer em dor.
Prazer é dor.

Êxtase e gigantismo.
Pequenez e gratificantes: gestos de cumplicidades soberanas.
De grátis: nua e crua, a lua.

A dor não pode ser maior que o prazer;
Nem o medo, maior que o amor!

Espelho

Jodhi Segall

Aos poucos nos tornamos mais fortes.
Aquela fraqueza não se sustenta.

Vemos a grandeza como algum comum.
Tomamos posse de nossas riquezas, fortunas, venturas.

Nada tememos em nós próprios e tudo preservamos ao derredor:
o modo, as coisas, as pessoas...

Aos poucos a imagem se dissipa e
no espelho encontramos nossas verdades.

Nenhuma dor permanece.
Sentimos uma áurea de humanidade,
cantamos uma música enternecida sem melancolias,
melodramas, restituições ou resgates.
Todas as contas estão pagas.

Leve como uma pluma, ergue-se sobre o sol,
a alma.

Sob estradas, estrados...
Além de nós, estrelas!