terça-feira, 26 de abril de 2016

E agora PT? (Parte I)


José Dias

O Partido dos Trabalhadores encerra, independente dos acontecimentos posteriores ao escabroso e fatídico: 17 de abril de 2016, uma página histórica da política e do desenvolvimento social e econômico nacional.

Na referida data, 367 deputados autorizaram a abertura do processo de impedimento (Lei n° 1079/1950) da presidenta Dilma Rousseff (2011-2014/2015 – 2018 (?) (PT) ), e encaminharam para o Senado, para as devidas deliberações, a mais controversa das traições palacianas já vivenciadas na história brasileira.

Nem mesmo o golpe contra Dom Pedro II (donde afirma-se que a primeira página vergonhosa da fundação da república foi a própria fundação da república!) pode ser comparado aos que se seguiram no decorrer destes parcos 127 anos republicanos.

Porém, as incoerências políticas deste início do século XXI criaram tantas monstruosidades – que puderam ser vistas ao vivo e a cores por toda a nação na supramencionada data – que o mote atemporal: “cada povo tem o governo que merece”, diante de tantas evocativas por Deus e para o bem da família brasileira, tornou-se a concretude que sustenta a verdade, a justiça e a liberdade da nação e seu débil e ignóbil povo, tão bem representado!

As controvérsias são das mais variadas formas e de visões tão caleidoscópicas, que uma investigação aprofundada, balizada e crítica acerca do que ocorreu nas últimas três décadas de redemocratização nacional só será (e se) possível no próximo século. Qualquer que seja a avaliação que se faça hoje, tão contaminadas as fontes (literalmente) e exacerbados os ânimos, que os níveis de pessoalidade e os confrontos de egos não nos permitem um mínimo de confiabilidade ou isenção de juízo de valores.

Mas há de se afirmar que mais do que lemos, vemos e ouvimos, o discreto silêncio respeitoso e o ardil oculto da destreza, neste instante, são a mais valia do poder.

Qualquer economista de bom senso e com o mínimo de conteúdo jamais poderá considerar o governo petista como “socialista” ou voltado, verdadeiramente, para o bem estar social: nunca, e em nenhuma nação cujo suposto apelo populista alcançou tamanho sucesso na implementação de medidas compensatórias na busca por igualdade e equidade social, se pagou tão superfaturadamente por algo que democrática e constitucionalmente seriam apenas cumprimentos efetivos dos direitos civis e deveres do Estado.

Acaso o descalabro desta dita insegurança constitucional e jurídica – e processual, posto que jurisprudência não falta para se atribuir responsabilidades e sanções àqueles que se beneficiam de seu poder e autoridade para deliberadamente cometer dano, denegrir, difamar, vexar a outrem em benefício de si e/ou de terceiros – se confirme, teremos decretado o fim do direito brasileiro em todas as suas varas e instâncias, pois não está em jogo apenas o direito constitucional, mas todo o processo legal que o pôs em xeque.

Mais do que a simplista tese de criminalização do Partido dos Trabalhadores, que é mais do que evidente, pois dos 367 deputados votantes a favor do impedimento, mais de 50% dos deputados são supostos corruptos e corruptores sob investigação e/ou com processo(s) já instaurado(s) no Supremo Tribunal Federal, e, por Deus e pela família brasileira, tendo como ícone – significado e significante – a liderança do presidente da câmara dos deputados (insigne douto, ilustre conviva: Eduardo Cunha), buscam a todo custo o ocultar suas máculas e alcançar divinamente o paraíso da impunidade, é preciso ressaltar que em momento algum da democracia brasileira houve – ainda que recaiam dúvidas sobre os reais interesses envolvidos e os tendenciosos procedimentos “éticos” adotados para o bem da transparência e publicidade – tamanha ação e comprometimento do Ministério Público Federal e seus agentes e instituições afins na busca de provas que forneçam bases para a responsabilização dos danos causados ao erário público.

E esta seria, talvez, a verdadeira traição da pátria realizada pelo PT: cumprir a constituição e respeitar a legalidade e a independência do MPF! Trocou o apoio político do silêncio da corrupta conivência, pela elucidação dos fatos. Diferente de seus predecessores, não há aquela figura prosaica do “engavetador geral da república”.

 Segundo estimativas modestas, nacionais e internacionais, a corrupção brasileira gera uma receita líquida de algo entorno de 50 bilhões de dólares anuais. E não é de agora, mas desde sempre! Nada tão simbólico quanto ser um gigante deitado em berço esplêndido.

Há de se avaliar no porvir que apesar de personificarmos os nossos problemas sociais, políticos e econômicos na figura do(a) mandatário(a) do executivo federal, é, em grande parte, na municipalidade e na esfera estadual – verdadeiros currais eleitorais – em que a corrupção se consolida  e torna-se uma etiqueta, um modus vivendi da e para a sustentação do poder local e, consequentemente, regional.

Oriundo dos movimentos sociais e sindicais dos anos de chumbo (1964 – 1984), o Partido dos Trabalhadores, tendo Luis Inácio Lula da Silva como seu maior expoente e translúcida eminência do poder, não conseguiu isentar-se, ora como agente ou ora como vítima, deste modus vivendi. Tanto que para galgar o poder máximo do executivo teve que se aliar aos Sarney e outros neoliberais, mudando o discurso de afrontamento e enfrentamento das questões sociais, políticas e econômicas para o de coalizão, alianças e ajustes, criando uma política de barganha de cargos e orçamentos. E obras... Muitas obras!

Algo muito temerário e arriscado, mas que em uma econômica ascendente passou como se fossem medidas necessárias ao andamento do Projeto de Aceleração do Crescimento – carro chefe das mudanças propostas para o desenvolvimento social e econômico nacional, porém, com a desaceleração da economia mundial, perda de investimentos e queda das commodities, há a retração do mercado e consequente queda de arrecadação, logo, uma vez que a sustentação política para a governabilidade e governança foi embasada na barganha e favorecimentos (lícitos e ilícitos!), cessadas as fontes pagadoras, não havendo com o que mais barganhar, findam-se os acordos de cavalheiros.

As medidas que permitiram um fôlego à economia e inflaram as perspectivas de crescimento real, tais como o aumento da oferta de crédito e a supressão temporária de impostos, na recessão provaram-se um doloroso déficit nas contas públicas. Ainda que se suponha o agravamento deste déficit público por investimentos nos programas sociais (Programa Bolsa Família; Minha Casa Minha Vida; PRONATEC; e Ciência Sem Fronteiras, por exemplo), considera-se uma parcela muito pequena (cerca de dois bilhões de reais) do montante de 70 bilhões de reais, dívida pública estimada em março de 2016, e um dos argumentos para o impedimento.

Contudo, não considerar o motivo para o impendimento como no mínimo insólito, é ser ingênuo. É deixar de perceber que a grande vítima deste descalabro nacional não seja senão o direito constituicional, em primeira instância, posto que o Impeachment[1] (Lei n° 1079/1950) para ser instaurado, tem como premissa a existência de elementos comprobatórios de crime de responsabilidade por parte do chefe do executivo nacional, no caso, a presidenta Dilma Rousseff. Como não há tal circunstância, o que se tem visto e de maneira ostensiva é o uso de um elemento constitucional e legal a serviço da ilegalidade e da injustiça.

Definir como golpe é infantil. Simplista. Pueril. É bem mais do que isto.




[1] Impeachment: Palavra anglo-saxônica que denota o real mandatário da nação e os verdadeiros interesses que estão sendo defendidos por aqueles santos e devotados maridos e esposas; filhos, mães e pais; avôs e avós, insignes deputados e senadores, profundos amantes da pátria. Qual pátria não se sabe!? Mas com certeza, não esta, a qual amo e defendo, chamada Brasil!

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