José Dias
O Brasil não é um país sério. Emblemática, a frase atribuída a De Gaulle toma um ar grandioso diante do momento golpista nacional. Incrivelmente, conseguimos criar uma nova modalidade de golpe, bem mais sofisticado do que aquele que fundou a república e afundou o desenvolvimento nacional: o golpe jurídico-institucional.
Mais que isto, criamos tantos golpes dentro de um golpe, que transparecemos em gigantesca transcendência o muito ou a totalidade da nossa incapacidade democrática e a nossa total subserviência a interesses outros e de outros, que não os pátrios.
Para além da cortina azul celeste ou carmim, que deveriam apenas traduzir o respeito que se tem aos atores sociais, políticos e econômicos que sobem ao palco para representarem papéis que nós, autores de nossa própria história, designamos, há o suposto Estado de fato e de direito.
Ocorre que nem o fato e nem o direito subsistem ao descalabro de uma nação submersa em falácias e imersa na corrupção. Esta, um patrimônio cultural nacional originária da colonização, institucionalizada no império e constitucionalizada na república oligárquica do século XX.
O surpreendente do presente embate midiático entre os poderes da república não são sequer a ilegalidade do impedimento ou a respectiva segurança jurídica e institucional que deveriam ser judiciosos e responsáveis pela integridade da república, não.
O apavorante são os reais motivos que nos trouxeram ao impaludismo político, cuja alienação, hipocrisia e ignorância são transcritas e proferidas com tal solene leviandade que crê-se que, aqui, no Brasil, somos todos, além de juízes e santos, altamente politizados. Filhos pródigos da história e pais cosmopolitas da geopolítica moderna. Mais que isto: crentes! Justos! Honestíssimos!
A verdade, se é que há alguma, é que em um país analfabeto funcional, o senso crítico equivale ao fragor apaixonado do momento no qual o cidadão apercebe-se, mais que lesado, ignorado para além de sua ignorância. Em uma sociedade estabelecida sobre o ganho a qualquer custo, onde a universalidade de direitos é uma afronta ao monopólio de determinados seguimentos e corporações, o lesa pátria é uma entidade ideológica-política.
Para aqueles que acreditam que há uma caça aos corruptos e corruptores da pátria, há de se afirmar o ledo engano.

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