Jodhi
Segall
Para Fernando Pessoa
I
Todo
poeta é filho, irmão e pai.
Bom
companheiro na caminhada.
Gigantesco
amigo!
Rico
por natureza,
Gentil
ética possui.
II
Todo
poeta é um grande amante:
Uma
mescla da razão de um falso sacerdote incandescido com
A alma
inebriante de indômito guerreiro insandescido!
Raramente
é um trabalhador exímio em seus ofícios
Para
aquém ou além da palavra: texto, contexto, mensagem.
Quando
assim deseja ou a necessidade clama;
Respeita-se
a importância da boa paga por seus (em)préstimos:
Apesar
de ser telúrico, sabe que Deus mora no estômago!
Nenhum
poeta é suficientemente grande para que não
Seja
disciplinado pela fome cotidiana e comunitária.
III
Poetas
adoram, idolatram a beleza, ainda que fútil ou frívola.
Tudo no
poeta é perene fugacidade do tempo.
Rude e
grotesco diante de seu espelho das almas,
Normalmente
é um duríssimo autocrítico.
Mas não
é bom ser mais realista do que o rei:
Não se
deve ser ingênuo por demais, libertino, patético.
Não é
um ser muito organizado nem muito prático,
Mas
entende que a inocência é um pecado mortal.
IV
Preza
as virtudes, ainda que mortas.
Amoral
em sua impermanência;
Impertinente
em suas estadias;
Contraventor
em suas liberalidades!
Instigante
partejador.
Incauto
por amor;
Tolo
quando necessário;
Sábio
quando do impreciso;
Útil na
escuridão!
Essencialmente:
kamicaze!!
V
Todo
poeta é todo mundo.
Do bom
e do mal.
De
incompletudes vive: nada nele é concreto.
Tudo
nele é desconforto, contraposição, contestação.
É um
insatisfeito: a imperfeição é sua aliada;
O
conformismo não o alimenta;
A perfeição
não o engana.
O
confronto lhe é mais:
A morte
é sua melhor companheira!
Apenas
o mau lhe afeta o gosto e o modo.
VI
Todo
poeta é invejoso por demais: detesta hipocrisias!
É
mentiroso: nenhuma verdade lhe é absoluta!
Nada em
um poeta é divindade.
Tudo
nele é obscuro: a escuridão é sua morada.
Tudo
nele é partilha: humanidade! Porém cruel!
Não
nasceu para a subserviência. Porém, serviço é seu nome.
VII
Tudo no
poeta é palavra, criação, louvor.
Sentimento,
rumo, valor.
Tudo no
poeta é grito: indignação, manifesto,protesto!
Hiperbárico
e inter-semiótico,
Tudo em
si é exagero: o bom, o mal e o feio.
Poetas
são prudentes plenos de suas imprudências.
São
orgulhosos e vaidosos, portanto, humildes.
São
maravilhosos quando entendidos e discretos.
Comprometidos
com a justiça, a verdade e a liberdade,
Nada no
poeta destoa, nem mesmo a crítica.
Tudo no
poeta é regra: amar plena e livremente.
Normativamente,
é ser pessoa.
(É...
Ser poeta não é fácil!
Mas
vale a pena)