terça-feira, 14 de março de 2017

Normativo


Jodhi Segall
Para Fernando Pessoa
I
Todo poeta é filho, irmão e pai.
Bom companheiro na caminhada.
Gigantesco amigo!
Rico por natureza,
Gentil ética possui.

II
Todo poeta é um grande amante:
Uma mescla da razão de um falso sacerdote incandescido com
A alma inebriante de indômito guerreiro insandescido!
Raramente é um trabalhador exímio em seus ofícios
Para aquém ou além da palavra: texto, contexto, mensagem.
Quando assim deseja ou a necessidade clama;
Respeita-se a importância da boa paga por seus (em)préstimos:
Apesar de ser telúrico, sabe que Deus mora no estômago!
Nenhum poeta é suficientemente grande para que não
Seja disciplinado pela fome cotidiana e comunitária.

III
Poetas adoram, idolatram a beleza, ainda que fútil ou frívola.
Tudo no poeta é perene fugacidade do tempo.
Rude e grotesco diante de seu espelho das almas,
Normalmente é um duríssimo autocrítico.
Mas não é bom ser mais realista do que o rei:
Não se deve ser ingênuo por demais, libertino, patético.
Não é um ser muito organizado nem muito prático,
Mas entende que a inocência é um pecado mortal.

IV
Preza as virtudes, ainda que mortas.
Amoral em sua impermanência;
Impertinente em suas estadias;
Contraventor em suas liberalidades!
Instigante partejador.
Incauto por amor;
Tolo quando necessário;
Sábio quando do impreciso;
Útil na escuridão!
Essencialmente: kamicaze!!

V
Todo poeta é todo mundo.
Do bom e do mal.
De incompletudes vive: nada nele é concreto.
Tudo nele é desconforto, contraposição, contestação.
É um insatisfeito: a imperfeição é sua aliada;
O conformismo não o alimenta;
A perfeição não o engana.
O confronto lhe é mais:
A morte é sua melhor companheira!
Apenas o mau lhe afeta o gosto e o modo.

VI
Todo poeta é invejoso por demais: detesta hipocrisias!
É mentiroso: nenhuma verdade lhe é absoluta!
Nada em um poeta é divindade.
Tudo nele é obscuro: a escuridão é sua morada.
Tudo nele é partilha: humanidade! Porém cruel!
Não nasceu para a subserviência. Porém, serviço é seu nome.

VII
Tudo no poeta é palavra, criação, louvor.
Sentimento, rumo, valor.
Tudo no poeta é grito: indignação, manifesto,protesto!
Hiperbárico e inter-semiótico,
Tudo em si é exagero: o bom, o mal e o feio.
Poetas são prudentes plenos de suas imprudências.
São orgulhosos e vaidosos, portanto, humildes.
São maravilhosos quando entendidos e discretos.
Comprometidos com a justiça, a verdade e a liberdade,
Nada no poeta destoa, nem mesmo a crítica.
Tudo no poeta é regra: amar plena e livremente.
Normativamente, é ser pessoa.

(É... Ser poeta não é fácil!

Mas vale a pena)

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