segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Adeus, mano véio!


Nada vos sovino
Com minha incerteza
Vos ilumino
In Memorium ao mestre e amigo, F. Gullar.


Pois que parte.
E não há mais parte, mas todo, e arde!
E tudo, então, por maior ou melhor que tenha sido,
O fosse, assim seria sempre tarde.
Ó tardia cantiga tola que assola a lágrima.
Ó lágrima que percola a face espantada do sal sobre a carne,
Do sol
Que se fez cerne.
Ó silêncio: de que nos serve essa brandura...
Tudo que (re)afirmo é o grito!
E o preço do feijão, que continua a não caber
No poema que não fede
Nem cheira!



Jodhi Segall

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Uma breve exposição acerca da Teoria Geral da Economia Funcional (Estágio Primário/Introdução)

José Dias

O ser humano é um ser social, político e econômico. 

Todas as relações humanas pautam-se pelo custo x benefício, ainda que inconscientemente não percebam esta relação. 

Considerando as relações de dádiva, supõe-se haver padrões universais que permitam a previsibilidade macro econômica e geopolítica a partir do referencial bélico.

A partir da suposta existência da Ecologia e dos argumentos apresentados acerca da (in)sustentabilidade universal, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social são incompatíveis, não havendo poder mediador/regulador entre os povos que não seja a produção e empoderamento de ciência, tecnologia e inovação. 

Vivenciamos o ser bioquímico em contradição ao ser econômico, contudo ao verificar-se o instinto de autopreservação da espécie observa-se um fenômeno inusitado: o homem sem pênis e a mulher invisível!

Considerando uma população mundial de sete bilhões de pessoas e uma suposta produção de riqueza de 44 trilhões de dólares, dos quais apenas 1/4 pode ser mesurado fisicamente, ponderando acerca dos lúdicos critérios de riqueza x pobreza, um aborígene em seu habitat natural (enquanto este houver) é mais rico do que qualquer Bill Gates da vida!

E por fim: em todas estas ponderações afirmativas há uma economia funcional, inerente ao indivíduo, relativizado através de suas relações sociais, políticas e econômicas. Supõe-se que o ser econômico prevaleça sobre o ser social e político. 

Em primeira instância, os meios e recursos próprios para a sobrevivência, sejam herdados ou adquiridos, podem caracterizar o estágio de extinção de uma sociedade.

Por ora é só. Mas há muitas questões quanto ao que vem a ser a TEGEFU, pois crendo ou não, estamos todos. Sejam bem vindos à Idade Média...

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Pra não dizer que não falei de horrores

José Dias
Uberaba, MG, 13 de outubro de 2016

E chegamos lá! Corruptos e corruptores pilham descaradamente o povo brasileiro. E afirmam ser para o bem nacional os descalabros que, por si só, já se agigantam!
De todas as reformas "fiscais", a política é aquela cuja urgência se faz para além da previdência: um congresso com um “PIB” de cinco bilhões de reais é um país alheio à realidade provinciana do desenvolvimento social, político e econômico brasileiro. 
São necessárias mudanças estruturais.
É preciso revisar conceitos constitucionais e reestruturar os códigos jurídicos, penais e trabalhistas, bem como o processo legal brasileiro. Mas principalmente, cessar as excessivas benesses, hoje, oferecidas ao funcionalismo público em seus cinco poderes: Mídia (propaganda e marketing), Executivo, Judiciário, Legislativo e Ministério Público. Afirma-se, com certeza: não foram as carências do povo brasileiro que causaram a falência nacional. Com certeza, não! 
Essas sempre foram, apesar de solucionáveis em curto, médio e longo prazos segundo a tipologia do risco social imanente e da probidade administrativa aplicada à pesquisa, planejamento, desenvolvimento, execução e monitoramento de resultados, o alvo preferido dos corruptos e corruptores nacionais e estrangeiros: o pobre povo brasileiro é um ser profundamente mal educado e indesejável, mas necessário.  
É triste informar que o entendimento de "pobre", aqui, não é o critério utilizado para o extinto Programa Bolsa Família - PBF, mas o de ignorante político.
E poucos escapam...
O resultado está aí: no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados e, principalmente, nos Estados e Municípios, verdadeiros feudos, currais eleitorais de famílias seculares: quem vota em um lider de esquerda e constitui um congresso/governo de ultradireita, deseja tudo, menos transformações... O resultado é essa loucura ingovernável chamada República de Bananas.
De eterno, apenas o PMDB, que não suporta ser contrariado ou ver cessadas as corruptas rendas de sua subsistência. Fiel pai de tantas siglas (impossível crê-las significado ou significantes de alguma ideologia política que não seja alimentarem-se do fundo partidário e fragmentarem e esvaziarem as discussões acerca do desenvolvimento social brasileiro), construiu e pavimentou o projeto neoliberal (Projeto Getúlio) que agora, em 2016, mostra-se, ao contrário do imaginado, não em sua fase terminal, mas com fôlego pueril para a sua sustentabilidade secular.
No âmbito do emprego, trabalho, assalariamento e/ou renda, as análises econômicas mundiais apontam que "pobre" é aquela pessoa produtiva que ao fim do mês não atingiu um salário/renda no entorno de U$7.500,00 (sete mil e quinhentos dólares), ou seja: R$26.250,00 (vinte e seis mil duzentos e cinquenta reais/mês) em câmbio médio atual.
Logo, quem no Brasil crê-se classe média, deveria reavaliar seu ponto de vista, pois certeza absoluta tem-se acerca dos miseráveis: são aqueles na faixa dos que "sobrevivem" com U$30,00/mês, ou nem isto!
Embora se considere que - cristã e ecumenicamente - miseráveis sejam aqueles que são incapazes da partilha, salários/rendas acima dos U$100.000,00/mês deveriam pagar impostos adequados às misérias que produzem. Mas, atente-se, no Brasil e em maior parte do globo, ricos não são pessoas tributáveis, mas benemerentes e filantropos, que beiram à santidade e merecem a isenção de seus pecados.
Neste sentido, como para toda ação há uma reação de igual força e direção contrária: há, no momento muitos, muitos, e cada vez mais e mais pobres famintos e desesperados que, abandonados ao léu de sua própria ignorância, criarão seus próprios negócios de alta rentabilidade: tráfico de drogas; assaltos a bancos e comércios; sequestros, entre outros. Mas não se comparam ao uso indiscriminado da religião ou da "pilantropia", realidade reinante, para o fim de desvio de verbas e lavagem de dinheiro. 
As loterias populares, por exemplo, tomadas por bingos cujo valor é "capitalizado" em prol de instituições filantrópicas, são mui bem administradas pelos cartéis do jogo do bicho: pobre das crianças e idosos que de tais recursos dependem! Há casos em que nem as Instituições supostamente beneficiárias existem, e, na maioria dos casos, quando existem, nem sabem que estão arroladas no rol de beneficiária dos lucros aferidos com a suposta capitalização. 
As Organizações da Sociedade Civil - OSC, nova e econômica sigla que reúne ONG's e OCIPS's, que administram hospitais pelo Brasil a fora, por exemplo, fazem tudo, menos administrar hospitais em prol da excelência no atendimento à comunidade.
As instituições asilares e de abrigamento tornaram-se, em sua maioria, verdadeiras pocilgas pré-tumulares. A realidade destas instituições Brasil a fora é desesperadora. Crê-se que 85% destas Instituições sobrevivem ás custas da comunidade de entorno e abnegação pessoal do titular e seus colaboradores.  
A sonegação fiscal de micro, pequenas e médias empresas é uma outra fonte de renda muito apropriada para os setores reguladores e fiscalizadores, bancos principalmente, porém, nada se iguala ao coluio de tantas súcias quando comparados aos não pagamentos de impostos de pessoa de alta estirpe ou grandes empresas, sem falar nas absurdas renúncias fiscais e desonerações que deveriam resultar ou em diminuição de preços ou empregabilidade, o que raramente ocorre. Nessas horas, a CPMF, a 0,01% resolveria de bom grado a maioria das distorções e apontaria quem é quem no mundo do caixa dois. Quiçá vejamos o quão gentil é o povo brasileiro enquanto escravo pecuniário das instituições financeiras e do fisco...
Entende-se, por exemplo, que a tributação brasileira é injusta. É como ter um sócio que não faz absolutamente nada, pois esta é sensação de abandono do povo brasileiro, e que consome diáriamente 60% dos ganhos do trabalhador entre impostos, tarifas e taxas. Quem paga imposto no Brasil é pobre! O resto sonega!!! Como a corrupção, mais do que um desvio do caráter, sonegar impostos é uma cultura nacional.
Logo, se o problema fosse apenas a sonegação, bastariam ajustes sistêmicos e estrururais simplificadores e extensores da tributação, que supostamente as questões de distribuição das riquezas nacionais estariam equalizadas. Mas não! Nascemos, (sobre)vivemos e morremos sob a tutela e salvaguarda da corrupção pandêmica.
O Brasil quer ter um desenvolvimento de primeiro mundo, uma vida repleta de justiça, liberdade e bem estar. Ao menos é o que fica explícito ao ler-se a Constituição Nacional de 1988. Mas pagar o preço deste desenvolvimento? Ah! Isso é outra história!
O que mais assombra é ter a mais clara certeza de que é possível ter esse país. Basta querer verdadeiramente assumir sua independência e refutar a subserviência aos Estados-nações que sugam as nossas vidas. Observe-se que faremos, em 2022, 200 anos de independência, porém nunca estivemos tão dependentes de nossos históricos exploradores. São estes senhores imperiais da modernidade que fomentam a corrupção entre seus lacaios e pelegos.
Quando fala-se de corrupção pouco se explica sobre as suas consequências. A primeira delas é a produção e reprodução da miséria, que é refletida na péssima qualidade da educação e da saúde da população. A segunda, a proliferação do subemprego e de relações trabalhistas que beiram a escravocratocracia, quando, simplesmente, não a reafirma através da degradação humana. A terceira, o crescimento e a explosão da violência intrassocial, muito mais decorrente da necessidade de desestabilização de processos organizados de reação ao staus quo e sua cadeia de crimes contra o erário público e a economia popular, sonegação e impunidade, do que ato legítimo de barbárie ou mera desinteligência: onde a violência impera, não há negligência do Estado, mas sua conivência. São os agentes do Estado e seus entes políticos e econômicos quem lucram com o canibalismo intrassocial. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Trump e o Pato Donald


José Dias

Ao observar-se atentamente todo o processo eleitoral estadunidense de 2016, há de se ter ou buscar a isenção no juízo de valor.

Apesar do discurso espalhafatoso ao modo Pato Donald enfurecido, faz-se necessário entender que o presidente de uma nação com instituições democráticas sólidas, é apenas um executivo que, supostamente, representa os anseios de um povo: Trump não é e não será outra coisa.

Falou com os modos educados do orgulho e arrogância norte- americana para norte-americanos. E, principalmente, mais do que cacofonias inaudíveis, falou o que realmente eles queriam ouvir!

Para o resto do mundo, não muito acostumado com embates aquém da liturgia do cargo, destoa. Porém, emerge a realidade de um Estados Unidos da América que precisa se reinventar. E a alteridade é um caminho seguro contra as inconveniências da perpetuação de algum “poder supremo” que se diga democrata.

Ao elegerem Donald Trump, os norte-americanos mandaram uma mensagem dura, porém realista: a “América” não é feita apenas de costados! A Big Apple sendo ou não o coração da “América”, sofreu um enfarto fulminante, talvez pior que o 11/9!  Los Angeles pode ser cinematográfica, mas o filme da vida é aquele passa na mesa de cada cidadão norte-americano que se vê cada vez mais latinizado. Não em “raça”, mas pobreza!


Seja como for, o que se pode esperar de Donald Trump é algo bem pior que a herança maldita dos Bush. Porém com muito mais humor. Queiram ou não: ele é o cara!!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

09/11/2016: Trumpzomba, uma tragédia hilária


Alexander Martin Wash

Não há de se afirmar que a numerologia tem algo de propósito às tragédias estadunidenses... ...mas que o 911 será – doravante - muitas vezes acionado e o solo norte americano ver-se-á coberto de sangue negro e latino (não que já não o seja, porém tornar-se-á mais evidente!), e que, sem dúvidas, veremos estarrecidos centenas de explosões de fúria e ataques internos e externos à política americana, esta que se alinha ao que mais retrógrado há: racismo, xenofobia, sexismo, protecionismo e isolacionismo, e pior: o total desprezo à liberdade de expressão e aos direitos individuais, lamentavelmente, sim! Assistiremos ao vivo e em cores e in real time o fim da esperança e o renascer do obscurantismo medieval.

Ao Brasil? Resta-lhe o doce consolo de saber-se não único nem o pior ignorante político das Américas, e, vanglória a parte, pode até afirmar-se como precursor desta renovada política de exceções. Realinhados, agora, com um discurso da era Trumman de desenvolvimento e segurança nacional (digno de Colbert), porém às avessas, Brasil e EUA se reafirmam serviçal e senhor, respectivamente.

Nas terras tupiniquins a dor, no entanto, será menor: enquanto sabedores de que “não há pecado ao sul do equador”, e, portanto, lidarmos diariamente com os mais diversos aspectos da corrupção e subserviência, saberemos gentilmente ceder às necessidades econômicas, previdenciárias e comerciais estadunidenses. 

Mas, a pergunta que não quer calar é: o que será do pobre povo norte americano ao despertar para a triste realidade de que o seu sonho é um tremendo pesadelo?

O que será desta vestal parida ao descobrir que o mundo não é tão dependente do American Way Life quanto eles pensam? Que, no contexto comercial internacional, eles são os maiores caloteiros da paróquia e que há outras nações em franco (não fraco) desenvolvimento? 

E, talvez a pior de todas as decepções: não! Empresário não tem pátria nem escrúpulos! Depende do ganho, do lucro! E, sinceramente, não há empresário que tendo mínimas, e quiçá, melhores garantias de custo x benefício vá querer voltar para os EUA com um Trumpzomba na direção de um desgoverno com pitadas de guerra civil, mas sem Capitão América.

O que será do pobre povo norte americano ao descobrir que construir muros empobrece mais do que construir pontes... E que o belicoso ama a guerra e não suas responsabilidades e consequências; que o orgulho e a vaidade são fundamentais à humildade, não à insensatez?

Mas pode ser pior!! A dor será ainda maior caso se confirmem as ambições teocratas trumponinas ao redor do globo. Caso não nos tornemos mais um, todos saberemos o real significado da palavra refugiados! Onde o desemprego, a fome e a miséria são lugar comum, o bélico encarrega-se de descartar as mínimas possibilidades de reciclagem, humana principalmente.

Não bastasse um grande imbecil, agora temos dois ou três de mesmo porte que se entenderão muito bem em aramaico e russo arcaico. Há de se ressaltar que os árabes radicais, neste exato instante, encontram-se muito bem representados na Casa Branca: jamais imaginaram possuir um homem bomba com tanto poder de (auto)destruição em solo norte americano e sem ônus ou recrutamento!! É hilário!


Nunca o hino dos Estados Unidos da América fez tanto sentido: que “Deus abençoe a América!”. Mas nos salve de Trump.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Os Canalhas




Jodhi Segall
Anjos e Demônios I


Os demônios são mais interessantes que os anjos. Talvez por isto o inferno seja bem mais festivo e aprazível que a bucólica eterna seara celestial. Aliás, a idéia de bondade é fútil tanto no céu quanto na terra, contudo, no inferno produz um grande efeito. Ser bonzinho no inferno é gozar de nenhum preconceito, é poder ser rico sem ser roubado, é poder falar a verdade sem ser punido.

A lua que brilha em seus olhos

Jodhi Segall


A lua que brilha em seus olhos
é o reflexo do sol
que nasce no céu
da sua boca
quando nossas línguas
destemidas
ficam nuas
antes do amanhecer

Nossos corpos são

um pequeno riacho
que inunda o oceano de
estrelas coloridas

O mundo baila ao redor
das borboletas que insandecidas
voam dentro da nossa barriga

Quando dou por mim
sou apenas um beija-flor
e você um jardim infinito
sempre florindo
luzes, cores e aromas inebriantes

E tudo é canto e encantamento
silencioso e tênue na incompletude
a iludir a alvorada
espalhando estrelas
pelas manhãs

Exaustos, adormecemos entrelaçados
entre tatos e paladares repletos
de tantos prazeres que
apagamos o sol com nosso brilho
e deixamos apenas a lua
reinar soberana
no céu da boca,
com gostinho de quero mais...

terça-feira, 26 de abril de 2016

E não é por nada que entre o rol das justificativas conspiratórias há o pré-sal


José Dias

Até a “descoberta” das jazidas petrolíferas profundas, a matriz energética brasileira caminhava para um outro rumo: solar e eólica, ainda que a hídrica mantivesse a primazia, por maior desastre que isso - verdadeiramente – signifique!

Até aqui, corruptos e corruptores disputavam cada metro cúbito de concreto a ser injetado e cada hectare de área a ser devastada, pouco importando a quem ou qual dano causassem: os filhos degredados das usinas hidrelétricas brasileiras não entram nas estatísticas dos sem-teto ou sem-terra gerados no seio desenvolvimentista da nação.

Mas não é esta a pior das questões.

O pior é a não geração de energia. Investimentos e danos gigantescos para não se gerar nada. Para resultados esdrúxulos, pífios, ridículos!

Mas, de repente, do nada, pózinho de pirlim-pim-pim: bummm!! Pré-sal!

Ocorre que a exploração de petróleo não é construção de hidrelétrica. Não são os mesmos custos e fatores envolvidos. Mesurar recursos hídricos não se compatibiliza com valorar commodities: estima-se que a jazida brasileira seja valorada em 16 trilhões de dólares.

Destruir a confiança e os instrumentos organizacionais nacionais para a exploração do pré-sal, ou seja: “quebrar” a Petrobrás (detentora de tecnologia de prospecção petrolífera em águas profundas), devastar a indústria da construção civil de base e infraestrutura nacional, entre outros mecanismos de sabotagem e desvalorização acionária e instabilidade político-econômica, são ações que beneficiam as empresas transnacionais interessadas na privatização da Petrobrás.

Um dos desagravos (pasmem!) que justificam a devassa na estatal é o fato da universalização dos royalties por todas as unidades da federação e a destinação destes para a saúde e a educação.


Há muitas dinastias políticas municipais e estaduais muito felizes em promoverem o desenvolvimento social brasileiro, pois não?

E agora PT? (Parte I)


José Dias

O Partido dos Trabalhadores encerra, independente dos acontecimentos posteriores ao escabroso e fatídico: 17 de abril de 2016, uma página histórica da política e do desenvolvimento social e econômico nacional.

Na referida data, 367 deputados autorizaram a abertura do processo de impedimento (Lei n° 1079/1950) da presidenta Dilma Rousseff (2011-2014/2015 – 2018 (?) (PT) ), e encaminharam para o Senado, para as devidas deliberações, a mais controversa das traições palacianas já vivenciadas na história brasileira.

Nem mesmo o golpe contra Dom Pedro II (donde afirma-se que a primeira página vergonhosa da fundação da república foi a própria fundação da república!) pode ser comparado aos que se seguiram no decorrer destes parcos 127 anos republicanos.

Porém, as incoerências políticas deste início do século XXI criaram tantas monstruosidades – que puderam ser vistas ao vivo e a cores por toda a nação na supramencionada data – que o mote atemporal: “cada povo tem o governo que merece”, diante de tantas evocativas por Deus e para o bem da família brasileira, tornou-se a concretude que sustenta a verdade, a justiça e a liberdade da nação e seu débil e ignóbil povo, tão bem representado!

As controvérsias são das mais variadas formas e de visões tão caleidoscópicas, que uma investigação aprofundada, balizada e crítica acerca do que ocorreu nas últimas três décadas de redemocratização nacional só será (e se) possível no próximo século. Qualquer que seja a avaliação que se faça hoje, tão contaminadas as fontes (literalmente) e exacerbados os ânimos, que os níveis de pessoalidade e os confrontos de egos não nos permitem um mínimo de confiabilidade ou isenção de juízo de valores.

Mas há de se afirmar que mais do que lemos, vemos e ouvimos, o discreto silêncio respeitoso e o ardil oculto da destreza, neste instante, são a mais valia do poder.

Qualquer economista de bom senso e com o mínimo de conteúdo jamais poderá considerar o governo petista como “socialista” ou voltado, verdadeiramente, para o bem estar social: nunca, e em nenhuma nação cujo suposto apelo populista alcançou tamanho sucesso na implementação de medidas compensatórias na busca por igualdade e equidade social, se pagou tão superfaturadamente por algo que democrática e constitucionalmente seriam apenas cumprimentos efetivos dos direitos civis e deveres do Estado.

Acaso o descalabro desta dita insegurança constitucional e jurídica – e processual, posto que jurisprudência não falta para se atribuir responsabilidades e sanções àqueles que se beneficiam de seu poder e autoridade para deliberadamente cometer dano, denegrir, difamar, vexar a outrem em benefício de si e/ou de terceiros – se confirme, teremos decretado o fim do direito brasileiro em todas as suas varas e instâncias, pois não está em jogo apenas o direito constitucional, mas todo o processo legal que o pôs em xeque.

Mais do que a simplista tese de criminalização do Partido dos Trabalhadores, que é mais do que evidente, pois dos 367 deputados votantes a favor do impedimento, mais de 50% dos deputados são supostos corruptos e corruptores sob investigação e/ou com processo(s) já instaurado(s) no Supremo Tribunal Federal, e, por Deus e pela família brasileira, tendo como ícone – significado e significante – a liderança do presidente da câmara dos deputados (insigne douto, ilustre conviva: Eduardo Cunha), buscam a todo custo o ocultar suas máculas e alcançar divinamente o paraíso da impunidade, é preciso ressaltar que em momento algum da democracia brasileira houve – ainda que recaiam dúvidas sobre os reais interesses envolvidos e os tendenciosos procedimentos “éticos” adotados para o bem da transparência e publicidade – tamanha ação e comprometimento do Ministério Público Federal e seus agentes e instituições afins na busca de provas que forneçam bases para a responsabilização dos danos causados ao erário público.

E esta seria, talvez, a verdadeira traição da pátria realizada pelo PT: cumprir a constituição e respeitar a legalidade e a independência do MPF! Trocou o apoio político do silêncio da corrupta conivência, pela elucidação dos fatos. Diferente de seus predecessores, não há aquela figura prosaica do “engavetador geral da república”.

 Segundo estimativas modestas, nacionais e internacionais, a corrupção brasileira gera uma receita líquida de algo entorno de 50 bilhões de dólares anuais. E não é de agora, mas desde sempre! Nada tão simbólico quanto ser um gigante deitado em berço esplêndido.

Há de se avaliar no porvir que apesar de personificarmos os nossos problemas sociais, políticos e econômicos na figura do(a) mandatário(a) do executivo federal, é, em grande parte, na municipalidade e na esfera estadual – verdadeiros currais eleitorais – em que a corrupção se consolida  e torna-se uma etiqueta, um modus vivendi da e para a sustentação do poder local e, consequentemente, regional.

Oriundo dos movimentos sociais e sindicais dos anos de chumbo (1964 – 1984), o Partido dos Trabalhadores, tendo Luis Inácio Lula da Silva como seu maior expoente e translúcida eminência do poder, não conseguiu isentar-se, ora como agente ou ora como vítima, deste modus vivendi. Tanto que para galgar o poder máximo do executivo teve que se aliar aos Sarney e outros neoliberais, mudando o discurso de afrontamento e enfrentamento das questões sociais, políticas e econômicas para o de coalizão, alianças e ajustes, criando uma política de barganha de cargos e orçamentos. E obras... Muitas obras!

Algo muito temerário e arriscado, mas que em uma econômica ascendente passou como se fossem medidas necessárias ao andamento do Projeto de Aceleração do Crescimento – carro chefe das mudanças propostas para o desenvolvimento social e econômico nacional, porém, com a desaceleração da economia mundial, perda de investimentos e queda das commodities, há a retração do mercado e consequente queda de arrecadação, logo, uma vez que a sustentação política para a governabilidade e governança foi embasada na barganha e favorecimentos (lícitos e ilícitos!), cessadas as fontes pagadoras, não havendo com o que mais barganhar, findam-se os acordos de cavalheiros.

As medidas que permitiram um fôlego à economia e inflaram as perspectivas de crescimento real, tais como o aumento da oferta de crédito e a supressão temporária de impostos, na recessão provaram-se um doloroso déficit nas contas públicas. Ainda que se suponha o agravamento deste déficit público por investimentos nos programas sociais (Programa Bolsa Família; Minha Casa Minha Vida; PRONATEC; e Ciência Sem Fronteiras, por exemplo), considera-se uma parcela muito pequena (cerca de dois bilhões de reais) do montante de 70 bilhões de reais, dívida pública estimada em março de 2016, e um dos argumentos para o impedimento.

Contudo, não considerar o motivo para o impendimento como no mínimo insólito, é ser ingênuo. É deixar de perceber que a grande vítima deste descalabro nacional não seja senão o direito constituicional, em primeira instância, posto que o Impeachment[1] (Lei n° 1079/1950) para ser instaurado, tem como premissa a existência de elementos comprobatórios de crime de responsabilidade por parte do chefe do executivo nacional, no caso, a presidenta Dilma Rousseff. Como não há tal circunstância, o que se tem visto e de maneira ostensiva é o uso de um elemento constitucional e legal a serviço da ilegalidade e da injustiça.

Definir como golpe é infantil. Simplista. Pueril. É bem mais do que isto.




[1] Impeachment: Palavra anglo-saxônica que denota o real mandatário da nação e os verdadeiros interesses que estão sendo defendidos por aqueles santos e devotados maridos e esposas; filhos, mães e pais; avôs e avós, insignes deputados e senadores, profundos amantes da pátria. Qual pátria não se sabe!? Mas com certeza, não esta, a qual amo e defendo, chamada Brasil!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

17 de abril de 2016: o fim da Nova República brasileira?


José Dias

Para aqueles que se vangloriam, sob as bandeiras do combate a corrupção e por Deus e para o bem da família brasileira, há de se prever a ascensão sine qua non da direita radical e o cataclisma social nacional.

A política de consenso entre a (pseudo) esquerda do Partido dos Trabalhadores e as demais correntes político-partidárias fracassou, não por dicotomias ideológicas, mas por consagrar vícios práticos (políticos, administrativos e jurídicos) remanescentes das corruptas oligarquias que, seculares, governam colonialmente a nação e se prestam ao desgoverno em função de interesses transnacionais.

O futuro próximo afirmará a política de excessão e a instauração de um integralismo neoliberal jamais imaginado ou verificado ao sul do equador.

As conquistas sociais que - entre avanços e retrocessos - consolidaram o mínimo arranjo de garantias individuais e coletivas ao povo brasileiro, e que no governo petista deu especial atenção aos mais pobres, ver-se-ão extintas através da precarização do trabalho, terciarização do trabalho público e privado, achatamento salarial, dessecuritização e privatização da seguridade social, privatização da saúde e, fundamentalmente, sucateamento e privatização da educação, com ênfase às instituições federais de ensino superior.

Não obstante a tal previsibilidade, somar-se-á o silenciamento dos gritos dos excluídos com a execração dos grupos minoritários e suas reivindicações por justiça, igualdade e equidade.

No âmbito da empregabilidade, emprego e renda, veremos a supressão dos direitos trabalhistas e a desoneração integral da folha de pagamento em benefício dos empregadores, sem contrapartida de melhoria salarial, poupança individual ou consolidação de renda do proletariado.

Projetos de transferência de renda e promoção da qualidade de vida serão enterrados sob os escombros de uma democracia que jamais existiu, nem de fato, muito menos de direito.

A reforma agrária natimorta, quimera de mil faces da política nacional, finda sob a ditadura escravocrata e genocida dos coronéis do campo e da cidade: suas grilagens, suas lavras ilegais, seus desmatamentos tão lucrativos, e, principalmente, suas dinastias político-partidárias.

O acirramento das questões agrárias eclodirá sob a bandeira sagrada da justificativa da legalidade e da ordem institucional, levando ao extermínio centenas de famílias campesinas.

A simples hipótese de uma reforma política, territorial e fiscal, institucional, político-partidária e socioeconômica voltada para o bem estar social, por Deus e para o bem da família brasileira, encerra-se aqui. Tanto quanto a renovada velha república.

Enfim, o Projeto Getúlio e seu filho pródigo alcançaram seus objetivos.


Sic transit gloria mundi.

terça-feira, 12 de abril de 2016

O país dos golpes



José Dias


O Brasil não é um país sério.  Emblemática, a frase atribuída a De Gaulle toma um ar grandioso diante do momento golpista nacional. Incrivelmente, conseguimos criar uma nova modalidade de golpe, bem mais sofisticado do que aquele que fundou a república e afundou o desenvolvimento nacional: o golpe jurídico-institucional.

Mais que isto, criamos tantos golpes dentro de um golpe, que transparecemos em gigantesca transcendência o muito ou a totalidade da nossa incapacidade democrática e a nossa total subserviência a interesses outros e de outros, que não os pátrios.

Para além da cortina azul celeste ou carmim, que deveriam apenas traduzir o respeito que se tem aos atores sociais, políticos e econômicos que sobem ao palco para representarem papéis que nós, autores de nossa própria história, designamos, há o suposto Estado de fato e de direito.

Ocorre que nem o fato e nem o direito subsistem ao descalabro de uma nação submersa em falácias e imersa na corrupção. Esta, um patrimônio cultural nacional originária da colonização, institucionalizada no império e constitucionalizada na república oligárquica do século XX.

O surpreendente do presente embate midiático entre os poderes da república não são sequer a ilegalidade do impedimento ou a respectiva segurança jurídica e institucional que deveriam ser judiciosos e responsáveis pela integridade da república, não.  

O apavorante são os reais motivos que nos trouxeram ao impaludismo político, cuja alienação, hipocrisia e ignorância são transcritas e proferidas com tal solene leviandade que crê-se que, aqui, no Brasil, somos todos, além de juízes e santos, altamente politizados. Filhos pródigos da história e pais cosmopolitas da geopolítica moderna. Mais que isto: crentes! Justos! Honestíssimos!

A verdade, se é que há alguma, é que em um país analfabeto funcional, o senso crítico equivale ao fragor apaixonado do momento no qual o cidadão apercebe-se, mais que lesado, ignorado para além de sua ignorância. Em uma sociedade estabelecida sobre o ganho a qualquer custo, onde a universalidade de direitos é uma afronta ao monopólio de determinados seguimentos e corporações, o lesa pátria é uma entidade ideológica-política. 

Para aqueles que acreditam que há uma caça aos corruptos e corruptores da pátria, há de se afirmar o ledo engano. 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Sic transit gloria mundi [Brasil revisitado]

Alexander Martin Wash
Brasília, DF, 03 de março de 2016.

Em pleno vapor a falácia vaga por todos os recantos da ignorância humana. Raros são aqueles que se dispõem a buscar a verdade e citar suas fontes com isenção de juízo de valor. Afinal, no mundo imperial, o único coletivo possível – para além daqueles ônibus e trens lotados de carne para o holocausto cotidiano – é o do genocídio consciente.

 No entanto, tudo é tratado com tal pessoalidade que vivemos a era das personificações. De modo global e generalista afirma-se que a alteridade entre corruptos e corruptores nada mais é do que a defesa inconteste do statu quo vigente. Observe-se que a expressão latina ressalta que ante bellum.

E é este antes da guerra que nos revela a transitoriedade da vida humana, sua impermanência. Todas as coisas relativas ao humano são deveras finitas. Menos a sua ignorância e a inacreditável capacidade de cometer asneiras, o que soa mais como ofensa ao asno do que crítica ao bípede depenado.

Absurdamente, vivenciamos o contraditório no contradito e no contrafeito, ou seja, apesar de transparecer que há esta contradição, na verdade ela é a sustentação do oposto inexistente, pois trata-se de um mesmo ente. E, embasado na fé cristã: nenhum reino sobrevive dividido. Logo, como a ética depende de anseios, valores e princípios comuns, não há crise alguma entre quem quer que seja. O que temos são singularidades.
            
Neste sentido, surge o óbvio para afirmar o senso comum e a retórica para – diplomaticamente - refutá-lo. A dialética, uma estética romanceada da episteme, renasce das cinzas da paixão que tanto condena. E toma-se, por fim, o engodo por verdade, e todos os iludidos viverão felizes para sempre em sua mais completa subserviente obsolescência.

Gritam aos quatro ventos: Sic transit gloria mundi. E dizemos amém.